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Artigo de Opinião

BOM DIA ALEGRIA!

27/11/2023 05:00

A minha filha Madalena tinha 4 anos quando lhe disse: «Madalena, a mãe vai ser presidente do Clube Toastmaster.» Ela, muito admirada, pergunta-me: «As mulheres podem ser presidentes?» Pelo menos, do que me tenha apercebido, vejo como normal as mulheres terem cargos de decisão. Começa com a minha avó materna, que ficou viúva cedo com 7 filhos pequenos por criar. Na infância, cresci num concelho em que, na época, era liderado por uma mulher, Irene Saez. A minha escola era gerida por uma diretora. O primeiro ciclo foi feito com professoras. A minha mãe e as minhas tias eram as responsáveis pela educação, gestão e sustento da casa. Acreditava que as mulheres não ocupavam tantos cargos de chefia porque estavam bem entretidas e ocupadas com outras coisas que só elas sabiam fazer. Lembro-me do meu primeiro balde de água fria: um candidato à Junta de Freguesia convidou-me a ser parte da Assembleia. Fiquei radiante, até ter justificado o motivo: «Sabes, é por causa da lei da paridade.» Não me “descosi”. Aceitei na mesma, para garantir a presença feminina na política local e perceber como é que funcionava. E, de facto, é um mundo com raízes profundamente masculinas: desde a forma combativa de abordar os assuntos ao modo como se tomam decisões. Não estou a criticar, estou a constatar.

Ontem, perguntei à Madalena: «Achas que a sociedade permite que as mulheres sejam presidentes?» Ao que ela, com 10 anos agora, responde: «Sim, mas se for um homem a falhar, as pessoas até riem. Se for uma mulher a mandar e falhar, as pessoas dizem logo: “Ah! Ela nem consegue fazer isso?”» Acho que as mulheres têm medo de decidir mal e de serem criticadas por isso”. E a dúvida permaneceu na minha mente: será que a licença familiar e o fardo dos cuidados são realmente as únicas coisas que impedem as mulheres de ocuparem cargos de decisão no governo ou na política? Não serão também as políticas no local de trabalho, os preconceitos e as crenças inconscientes e da cultura?

Acredito que a mulher pode se diferenciar pelo seu instinto protetor e cuidador. Pela sua capacidade de negociar e persuadir sem grandes escândalos e agressividade. Em 2018, a Escócia, a Islândia e a Nova Zelândia juntaram-se e estabeleceram a rede de Governos de Economia de Bem-Estar. O objetivo é ir para além do PIB como a medida final do sucesso de um país. Esta rede de governos foi apresentada e liderada pelas Primeiro-ministras destes países. Igualdade de salário para trabalho igual, garantir que o trabalho seja gratificante e bem remunerado, a felicidade das crianças, acesso a espaços verdes e habitação, a saúde mental, cuidados de saúde e direitos na parentalidade: Nada disto está no PIB e de facto não são os primeiros indicadores que temos em conta quando pensamos numa sociedade rica. Enquanto mulheres, podemos demonstrar que estes são aspetos fundamentais para ter uma sociedade constituída por pessoas de bem com a vida, saudáveis e prósperas. Tratar destes assuntos é também tratar da competitividade económica. Quando pensamos em bem-estar conseguimos discutir os assuntos de uma forma concreta e eficaz: o que é que realmente importa nas nossas vidas? Que tipo de sociedade queremos mesmo pertencer? E se conseguirmos que as pessoas se interessem por estas questões e por respondê-las, teremos grandes chances de diminuir a alienação e o desinteresse pela política e pelos políticos, problema que atravessamos há muito tempo.

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