Decidi dar continuidade ao meu raciocínio da minha crónica anterior. Pois, ainda que seja de outra ideologia política, foi com alegria alheia que assisti ontem a um dos primeiros discursos de Lina Pereira, enquanto presidente do seu partido. Admiro qualquer mulher que tenha a coragem de seguir os seus próprios caminhos de forma coerente e sem passar por cima de ninguém.
São várias as hipóteses que podemos elaborar quando refletimos sobre o motivo das mulheres continuarem em minoria em cargos de chefia ou de liderança. Neste artigo, quero destacar três delas:
1. As culturas organizacionais que favorecem características tradicionalmente associadas ao estilo de liderança masculino. Por isso, muitas mulheres sentem que há barreiras na hora de implementar uma estratégia de liderança diferente.
2. A falta de modelos a seguir: a ausência de mulheres em posições de liderança pode resultar numa falta mulheres que inspirem outras mulheres, o que pode desencorajar aspirantes a líderes.
3. A falta da confiança nas nossas capacidades: num estudo feito no ISCTE, foi perguntado aos alunos se consideravam que tinham capacidades de liderança. 70% dos homens responderam que sim e apenas 30% das mulheres assumiram que têm capacidades para liderar.
Por isso, quero trazer-vos dois exemplos de mulheres que deixaram a sua marca no mundo da liderança por não esquecer o que são: mulheres.
Jacinda Ardern, ex-Primeira Ministra da Nova Zelândia, fez um extraordinário trabalho em crises nacionais e mundiais, centrando-se no poder do amor, da bondade e da Empatia. Segundo ela, “sendo eu própria”.
Numa das últimas entrevistas dadas pela Ex-juíza da Suprema Corte dos Estados Unidos Ruth Bader Ginsburg contou que esteve fora da Universidade durante dois anos porque o seu marido tinha sido chamado para ir à tropa. Preocupava-lhe se conseguiria gerir uma criança pequena e o seu curso de Direito em Harvard. O pai do seu marido diz-lhe: “Ruth, se não quiseres continuar o curso de Direito, ninguém te subestimará. Tens um ótimo motivo. Mas, se queres mesmo ser advogada, vais parar de sentir pena de ti mesma. Vais levantar-te e vais arranjar uma maneira.” A partir daí sempre que estava na dúvida perguntava-se: “Eu quero mesmo isto?” Se sim, arranjo uma maneira. Um dos aspetos que também destaco da Juíza Ruth Ginsburg foi a sua luta pela igualdade de género para todos. Inclusive pela necessidade dos pais homens terem apoio do Estado quando morriam as mães dos seus filhos.
As nossas capacidades genéticas devem deixar de ser vistas como fragilidade e passarmos a encará-las como o verdadeiro poder para resolver assuntos práticos e do interesse de todos.
Não tenho dados sobre o tempo médio de permanência de mulheres em cargos de liderança, mas aposto o meu dedo mendinho que é inferior ao dos homens. Possivelmente devido a desafios como o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal e a falta de oportunidades para implementar as suas próprias estratégias de liderança.
No entanto, questiono: há algum problema em permanecer em cargos de liderança apenas pelo tempo estritamente necessário para atingir um objetivo?
“Se algo existe nesta vida, que algum saber requer, é a ciência de entender como pensa uma mulher”, cantam assim “os Quatro e Meia”. Que a forma como nós pensamos deixe de ser um mistério e que possamos por a nossa visão das coisas ao serviço das localidades, da Região, do País e do Mundo.
Queremos mesmo isto? Então, vamos deixar de ter pena de nós, levantar-nos e arranjar uma maneira.