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Artigo de Opinião

13/08/2024 08:00

Cruzo as pernas, jogo-me para o chão e contemplo o que me aparece à frente. Sinto o cheiro a pólvora, vejo ao longe o caos. Carros, caixotes do lixo incendiados. Patrulhas de polícia pela rua, bombeiros a apagar fogos, socorristas a sarar feridas.

Observo inocências perdidas, crianças influenciadas por adultos revoltados pela diferença. O ódio alimentado de tenra idade, e a inocência.

Inspiro o cheiro a queimado a percorrer o rastilho, alimentado pelo quinto cavaleiro do apocalipse.

Vejo os lagos a desaparecerem, os rios a diminuírem, e as flores a morrerem. Observo do alto do monte de onde me sento, preso por correntes, por cobardia.

Duas facções se aproximam, duas verdades corroem os homens, liderados por capitães, majores, coronéis e generais.

A fome cresce, sedente de vingança e aniquilação. Aumenta a fadiga e diminui a esperança, as árvores ficam sem ramos, os pássaros, sem poiso, começam a tombar. A morte instala-se.

Eu mantenho-me acorrentado, resignado, pelas normas de uma sociedade decadente, por um povo que já não se tolera, nunca se tolerou.

O alimento é formado por desespero, e nós alimentamo-nos procurando um teto, procurando uma saída do gueto que está a nos devorar.

A paz que procuramos virá com o tempo, mas esse tempo virá por nós. E o tempo já se esgota.

Os cavaleiros já se juntam, a chamada já está perto.

As cadeias encontram-se esgotadas, as pessoas ficam na rua, mas todos nos escondemos e somos todos cruéis. Não há falta de tiranos, não há falta de tolos. E o tempo continua.

As sirenes confundem-se. O mundo fica cada vez mais plano, ficando fácil para os cavalos passarem.

Ezequiel e Zacarias previram, e neste momento só estou à espera. Aguardo pelo fim do rastilho, aguardo pelo tempo.

Um padre, corre, procurando a sua salvação. Ninguém se ajoelha, ninguém implora, carregando o ódio, ele foge.

O sol arde na pele, que começa a formar as bolhas, as bolhas da vergonha, tentam esconder-se na floresta, mas a mesma começa a escassear. Reduziu-se a cinzas, que são espalhadas pelas ruas, por entre os canteiros abandonados,

Não há nada mais valioso para proteger, a inocência foi roubada, a terra secou, o verde desapareceu e o azul morreu.

E continuo sentado em cima do barril de pólvora que chamo de mundo. A observar o rastilho a chegar ao fim, e o quinto cavaleiro a pedir para ter fé, acreditar cegamente, fechar os olhos e não questionar.

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