MADEIRA Meteorologia

Artigo de Opinião

Economista

27/03/2021 08:03

Os fortes ventos de uma tempestade de areia viraram o curso da embarcação, que agora se encontra atravessada naquele que é um dos canais nevrálgicos do comércio internacional. Todos os dias navegam no Canal do Suez aproximadamente 50 embarcações, transportando 10% do comércio internacional. Cada dia de paragem na navegação no Suez causa não só uma significativa redução nas receitas do Egipto, mas implica principalmente atrasos consideráveis nas cadeias logísticas alimentares, industriais e de combustíveis em todo o mundo. Ainda para mais, numa economia internacional que já está sob extrema pressão devido às sistemáticas interrupções à atividade, decorrente da crise pandémica.

Na verdade, temos sido assoberbados com impossíveis desde o início da pandemia. Há um ano que alguns cenários de filmes surrealistas encontram eco na nossa realidade: os confinamentos obrigatórios, as proibições aos hábitos sociais, as emergências de saúde pública, a sobrecarga dos serviços de saúde, a quebra abrupta nas trocas comerciais e nos contactos humanas. Mais, a Covid-19 tem nos acostumado à seguinte ideia: aguentem-se, porque tudo pode sempre ficar ainda mais excêntrico.

Essa simbologia está bem presente nesta imagem do EverGiven, caso de encalhamento insólito naquele canal. Quantos projetos e quantas vidas não estão também encalhadas devido à crise? Mas na fotografia não está somente essa materialização do impossível. Também encontramos a figuração do engenho - e génio - humano, nomeadamente na extremidade direita da fotografia. Se olharmos com atenção perante a magnitude colossal da embarcação, encontramos uma escavadora a tentar libertar o colosso dos mares. Incansáveis, as equipas no terreno tentam solucionar o estrangulamento do Canal com dragas e escavações. Não existe Nobel da Economia ou CEO de qualquer multinacional que detenha tanta importância para o comércio internacional como aquele operador de máquina. Aliás, à semelhança dos heróis tão pouco reconhecidos da pandemia, sem os quais a nossa economia simplesmente não funcionaria: os trabalhadores da indústria agroalimentar, o pessoal dos serviços de limpeza, as operadoras de caixa dos supermercados, os agricultores nos campos, os funcionários dos mercados abastecedores, entre tantos, tantos outros.

Mesmo com desfecho indefinido à hora em que escrevo sobre o EverGiven, existe uma certeza: a esperança humana procura sempre uma resolução do problema, seja de que tamanho for. A esperança move montanhas. E porta-contentores.

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