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Artigo de Opinião

Economista

4/11/2023 08:00

A atual guerra entre Israel e o Hamas, desencadeada pelo brutal ataque do Hamas no dia 7 de outubro, veio demonstrar novamente a irrelevância da política externa europeia. Líderes europeus têm se desdobrado em posições públicas e visitas a Israel, mas a constante disputa pelo palanco tripartido entre a presidente da Comissão Europeia Ursula van der Leyen, o presidente do Conselho Europeu Charles Michel e o alto representante da União para os Negócios Estrangeiros Josep Borell, não só confunde o panorama político na Europa, como lamentavelmente cria uma névoa junto dos interlocutores do conflito no Médio Oriente.

Lembra o comentário sobre a Europa, atribuído a Henry Kissinger, quando dizia que não sabia a quem telefonar no caso de uma emergência. Hoje em dia, o problema parece ultrapassado, mas não pela positiva: já nem se telefona à Europa.

Numa tentativa de marcar terreno, o Conselho Europeu da semana passada decidiu que "em breve" se deverá realizar uma conferência internacional para a paz. Passado uma semana ainda não se sabe nem quando, nem onde, nem com quem se realizará e com que objetivos. Ao mesmo tempo, a escalada de violência agrava-se diariamente e aos 1400 israelitas mortos e 200 sequestrados acrescentam-se agora baixas militares israelitas e milhares de palestinianos bombardeados em Gaza, encurralados entre a força militar israelita e a manipulação do Hamas que os usa como escudo humano.

Não podemos vacilar no claro direito à auto-defesa de Israel e no próprio direito à existência do Estado de Israel. É preciso uma clara condenação sem quaisquer "mas" face à barbaridade do Hamas, que persiste para além do dia 7 de outubro. Mas isso não significa, de longe, a mesma coisa que defender o governo de Netanyahu que não pune a violência dos colonos contra os palestinianos na Cisjordânia e que sonha com o empurrar da população de Gaza para o deserto do Sinai no Egipto.

De acordo com um analista, os governos israelitas duram em média 1,8 anos. O atual está quase na marca de um ano, o que significa o fim iminente deste primeiro-ministro - ainda para mais no atual contexto de guerra com o Hamas e após meses de polarização da sociedade em torno das reformas judiciais da coligação de extrema-direita de Netanyahu. A capacidade de mobilização do descontentamento profundo em relação ao atual executivo será determinante na manutenção da principal força de Israel enquanto sociedade plural, progressista e democrática.

Enquanto isso, a Europa perde-se em guerras interinstitucionais que mais não são que guerras de egos; o pior na política. Esta inconsequência dos atos é só mais um prego no caixão da relevância europeia à escala global. E isso numa altura em que o mundo tanto necessita de um incremento precisamente dos valores basilares do projeto europeu - respeito pelo direito internacional, pelo Estado de Direito e pelas democracias liberais; e o fomento do softpower como instrumento de desenvolvimento.

Temos assistido a uma sucessiva nacionalização dos sucessos da integração europeia, ao mesmo tempo que se externaliza e culpa "Bruxelas" pelos falhanços nacionais; incluindo no que toca a política externa. E isso não é obra das instituições comunitárias, é obra das cúpulas partidárias nacionais. É importante reverter essa tendência e colocar os pontos nos iis no que diz respeito também às capacidades da UE de ser um ator na política mundial, exigindo melhores qualidades dialogantes e cooperantes na política externa europeia, já nas próximas eleições europeias. Para bem da Europa e de todo o Mundo.

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