A narração não diz respeito aos filhos de Adão e Eva, mas a uma civilização mais adiantada, trata de um culto já instituído, de alguém que possa matar Caim, tanto mais que Caim é apresentado como o primeiro a construir uma cidade, além de um clã ou grupo de pessoas para proteger o assassino.
O documento pertence à tradição yahvista (usa o nome de Deus Yahve) que se relaciona a factos que dizem respeito às origens da humanidade, e têm um valor eterno. Primeiro foi o homem contra Deus, agora são os homens contra os homens,
opondo-se ao duplo mandamento do amor a Deus e ao homem que resume a lei dos dez mandamentos. O reino da maldade que começou com a desobediência dos primeiros pais, continua com um crime de morte, que entra com violência, no mundo.
O inocente é vingado e o violento deve ser castigado, entretanto, Deus, com amor misericordioso, para com o culpado, age antes da aplicação da pena. À pergunta de Deus a Caim “Onde está teu irmão Abel? Ele responde: Não sei, sou por acaso o guardião de meu irmão? Deus responde. Que fizeste? Escuta o sangue de teu irmão, que da terra grita para mim”. A conceção hebraica era que o sangue era a alma, derramado e não coberta de terra, grita a vingança de Deus. Caim tem medo, será um errante pela terra e poderá ser morto por qualquer mortal. Deus responde: “Se alguém
matar Caim será vingado sete vezes”. Deus misericordioso coloca um sinal em Caim, que o protege, visto ser membro de um grupo onde a vingança do sangue é exercida de uma maneira terrível.
A fonte “Yahvista” apresenta uma genealogia igual à “sacerdotal” onde aparecem os mesmos nomes. “Mulheres de Lamech, escutai a minha voz: “Eu matei um homem por uma ferida, uma criança por um arranhão. É que Caim é vingado por sete vezes, mas Lamec, setenta vezes sete”. (Gen.4, 4). Este cântico selvagem, composto por um bandido do deserto em honra de Lamec, foi aqui colocado e recolhido como prova da crescente violência dos descendentes de Caim.
Este nome, Caim provem de um verbo que significa “ferreiro” ou perito na arte de metais em língua semita. Abel provem da palavra hebraica “hebel” que significa ar ou respiração, talvez porque viveu poucos anos.
O autor sagrado não intende contar um facto histórico, mas ensinar verdades religiosas que, inspirado por Deus, julgou muito importantes para se compreender como o mal se alastrou no mundo.
Riscar o nome de Deus na vida dos homens, provoca a destruição e a infelicidade dos povos, os assassinos de Deus, tornam-se assassinos do homem.