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Artigo de Opinião

26/03/2024 08:00

Tivemos, no princípio do mês, uma chamada às urnas onde tudo correu mal. Uns ganharam, mas por pouco. Outros chegaram aos 50 deputados e a pele da nação arrepiou-se de tal forma que promete rasgar-se numa profusão de ensanguentadas lágrimas. Alguns dos partidos mais pequenos cantaram vitória apenas porque mantiveram o tamanho do seu grupo parlamentar, com a excepção de um que passou de pequenino a pequeno e por isso sente que pode alcunhar a sua vitória de “rotunda”. Os que mais deputados perderam em relação à legislatura anterior também ganharam, pelos vistos, porque perderam por pouco. Correu tudo mal.

Vejamos o Livre, que quadruplicou o tamanho do seu grupo parlamentar. O seu representante acha que o resultado do acto democrático é sinal de que o povo quer que o PS continue no poder, mas com os quatro deputados que o partido agora terá a agarrar nas rédeas e a desejar que quem ganhou as eleições (os mauzões menos maus) dê uma ajuda para não governar. Ou isso, ou conta com os mauzões piores, os que contam com o bafo de Mefistófeles em pessoa, para lhe abrir alas. Já o voto que retira confiança ao PS é que é, ao que parece, perfeitamente desprezável. Correu mal, neste caso, porque o Livre não se tornou o Chega da esquerda, por mais que agora se ponha em bicos de pés.

Também correu tudo mal a outros partidos mais pequenos. Desde aqueles que ganham sempre, mesmo quando perdem cada vez mais relevância (leia-se votos e deputados), até aos que cantam vitória por manterem o que queriam aumentar. São irrelevantes na matemática dos eleitos, mas ao menos sobrevivem no mesmo número. Alguns deles até são apontados, por conhecidos oráculos televisivos, a fazer parte do governo, mesmo que, na contagem de espingardas, nem mossa façam. Outros clamam, de voz pequenina, juras de oposição ao demónio que ameaça libertar, mesmo que poucochinho, o indivíduo da Divindade Estatal. Onde já se viu tamanha ingratidão!? Correu tudo mal.

Correu mal à coligação que ganhou, porque ganhou por pouco. Tivessem ganho por mais um bocadinho e talvez a relevância dos oito travessos mafarricos os tornasse mais úteis, com alguma possibilidade de influência na governação. Mas correu mal.

Aos passarinhos deste mundo que certamente morrerão, às flores que decerto murcharão e aos votos que se consumirão no fogo do inferno, também correu mal por terem sido violenta e democraticamente eleitos 50 deputados de um partido que tem de ser, a bem da pluralidade democrática e contra a potencial censura, censurado. Correu muito mal mesmo.

Correu mal ao partido da maioria anterior, absoluta, que dizia querer corrigir o que não fez durante os oito anos anteriores. Perdeu mais deputados dos que ganhou o partido diabólico. Foi uma derrocada, mas como o vencedor ficou aquém, deu para cantar uma pequena vitória, e celebrar a vitória maior que é não ter de governar nas condições actuais. Talvez, afinal, não tenha corrido assim tão mal a estes senhores...

Correu mesmo mal quando lá se levantaram do sofá e foram votar os absentistas; os jovens, propalados herdeiros de Abril, que votaram em barda; os indolentes emigrantes também lá mandaram o voto para Lisboa aos montes. Votaram mal, os desgraçados! Andavam há anos, os donos da liberdade, a advogar impor-se o voto ao cidadão, para agora virem estes energúmenos votar errado!

Para mim, correu mesmo tudo mal: impedido de votar, vejo agora o país partido em três, sem esperança na direcção de algum alívio do peso do Estado nas minhas costas. Tudo mal.

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