Apesar de ser algo jovem, pelo menos para os meus pais continuo a ser um "piqueno", considero-me da velha guarda, se é que isso ainda existe, em que os jornais devem de ser lidos em papel. O mais provável que me leva a esse sentimento é a educação, digamos. Cresci rodeado de jornais, fruto da ocupação do sr. Azevedo, nunca faltou um jornal cá em casa. Todos os dias de manhã o ritual de chegar à caixa de correio e apanhar os jornais, sim são sempre dois, houve até uma altura em que eram três, é algo que me dá prazer, mesmo quando chove em que estão empapados com a água da chuva que desabou durante a noite, ou só o pequeno orvalho, é uma cerimónia que não consigo saltar. Até nesses dias de chuva, por vezes, ao almoço compramos os diários secos e, apesar da alteração, leio-os/folheio-os enquanto almoço, normalmente, lá está, essa informação diária é absorvida no pequeno-almoço.
Gazeta dos Desportos, 24 horas, Tal & Qual (que fechou e voltou a abrir), Independente, entre outros, fizeram parte do monte de jornais que haviam espalhados cá por casa - estes já há muito fecharam as portas. As suas marcas ainda hoje são sentidas, Gazeta dos Desportos deu o seu lugar a O Jogo, sem Tal & Qual e 24 horas, não haveria Correio da Manhã como o conhecemos, apesar de ser mais antigo que estes, o Independente rivalizou no segmento de semanários com o Expresso. Estes jornais, como tantos outros, sofreram com a ausência de consumidor, como você, caro leitor.
Atualmente há uma crescente quebra de tiragem dos jornais que chegam à banca, a crise no sector é porventura mais grave do que sabemos, ou que nos fazem crer, e o maior inimigo deles é a cultura ou a educação. Hoje já não procuramos saber as notícias, não queremos saber das reportagens, estamos preocupados em saber o que nos interessa, o que vai de encontro com os nossos interesses, sem nos chatearmos muito, e isso vê-se na qualidade que os jornais nos oferecem, cheios de comunicados de imprensa escarrapachados nas páginas que custam tanto, publirreportagens disfarçadas de artigos, crónicas e opiniões cheias de agendas políticas.
Confesso que sou uma pessoa realista/pessimista, não acordo a olhar para o lado positivo da vida, ou com o sentimento que as coisas vão mudar para melhor. Não, não sou assim, encaro a realidade como ela é, e isso contribui para o meu pessimismo.
Há uma desconfiança generalizada com os meios de comunicação social, que faz com que já não acreditemos neles, somos bombardeados pelas fast news (trocadilho feito com o conceito de fast food), que não interessam para nada sem ser aumentar a descrença nos mesmos, com as crónicas e opiniões que só servem para gerar cliques e ‘engagement’ de modo a criar receitas publicitárias no maravilhoso mundo da internet, onde trolls confundem as notícias com sensações, e acabamos por entrar neste ciclo vicioso de online, paywalls, e outras coisas que matam, pouco a pouco, esta indústria que me diz muito, mas os maiores culpados acabam por ser os próprios jornais, contribuindo, também, para a crescente polarização que encontramos nos dias de hoje..
Bom dia, boa tarde ou boa noite, caro leitor, conforme a hora e o local onde se encontra, como dizia o outro senhor - espero que, quando chegar aqui, tenha os dedos com a tinta de jornal, como eu costumo ter.