É a velocidade que nos conduz e condiciona.
Senão vejamos:
Em fevereiro de 2022, enchia os ecrãs e as primeiras páginas dos tabloides a notícia da invasão brutal da Ucrânia.
Andámos meses a escalpelizar a situação diária duma guerra como se se tratasse dum jogo, com players ( é moderno usar este termo, não é ?) dum lado e doutro, avanços e recuos, imagens arrepiantes de destruição, fugas e mortes.
Um conflito seguido em poltrona.
Surgiram uns generais a protagonizar comentários, exatamente como em dia de dérby, uns especialistas de geopolíticas e relações internacionais, uns doutores a falar de tudo e nada.
Sobressaíram os enviados especiais, em rotatividade impressionante, perigosa e corajosamente próximos de zonas de risco, de colete à prova de bala e capacete, ao estilo dos grandes repórteres em cinema sobre tal temática.
Acompanhámos a corajosa atitude dum Zelensky que abandonou a comédia, onde se afirmavam os seus dotes artísticos, para congregar e valorizar a resistência dum povo martirizado.
Seguimos os seus périplos, all over the world, a reunir apoios para a sua justa causa, junto das mais altas patentes internacionais.
Os países abriram portas a milhares de refugiados, forçados a abandonar vidas normalizadas, carreiras de sucesso, esforços de vidas construídas em esperança e arrasadas em segundos.
Multiplicaram-se os gestos de solidariedade internacional.
Foi impressionante a revelação dos milhões de milhões disponibilizados para ajuda solidária ou interesseira.
Foram reveladores e surpreendentes os montantes reservados para o armamento, a destruição, a carnificina.
Foi gritante a ineficácia dos esforços de paz de organizações internacionais, pomposamente designadas por nações unidas e que nunca estiveram tão desunidas e desavindas.
Seguimos as notícias com alguma avidez, espicaçados pelos comentadores, pelos media a vender como nunca…
Porém, …
Eis que novo conflito aparece.
Uma organização terrorista, ataca brutalmente um vizinho, jamais aceite como tal, e o foco do interesse mundial centra-se agora no médio oriente, com novos atores.
Por todo o planeta, as novas notícias de novos repórteres invadem a pacatez dos dias.
Já ninguém fala da Ucrânia.
Passou, é de ontem, já não interessa.
Fica-se na ignorância e secundarização duma guerra que, seguramente, continua implacável e arrasadora, mas que já não motiva a compaixão, porque será mais do mesmo.
O sofrimento continua, Zelensky, porém, já não está nas pantalhas, os comentadores mudaram de tema, as ajudas começam a debandar.
Abre-se caminho à desistência por exaustão…
Os ecrãs iluminam-se agora das nuvens negras da destruição, das correrias de vidas em perigo, das lágrimas de crianças mutiladas e sofredoras, dos corredores onde se escondem, cobardes, os senhores da guerra, protegidos por escudos humanos, usados como carne para canhão…
Mas…
Primeiro-Ministro apresenta demissão pelas buscas judiciais de que é vítima!
Suspeito de corrupção e compadrio, por envolvência em conversas duvidosas e comprometedoras; um governo denegrido por suspeitas de prevaricação, ou seja, prática de atos que atendem a interesses pessoais, em prejuízo dos seus deveres de serviço público…
Uma cadeia intrincada de grandes empresários e seus capangas…
Convocação de eleições antecipadas, reposicionamento das forças políticas perante uma nova realidade…
Os «media» dão prioridade ao momento original da política, num país onde grassa impunemente a corrupção.
O que passou entra na história sem rosto e sem rasto.
O amanhã esquecerá e apagará o hoje.
E a vida assim continua em correria …
É de ontem? Já não interessa!...