Ficava bem no anfiteatro gambiarrado da nossa capital.
Jamais quisemos tanto, porém, que se fosse embora um Ano.
Já o 2010 era bonito e foi o que foi, com aquele 20 de fevereiro de má memória. Será do 20?
Haverá por aí estudiosos de cartas astrais e de outros que tais, de alinhamentos e conjugações, que terão justificadas razões para o annus horribilis.
Que tudo isto anda ligado, sabemos nós.
Como sabemos que muito disto é da nossa irresponsabilidade.
O desrespeito pela natureza é gritante, as agressões são criminosas.
A nossa sobranceria anda de rastos.
Afinal, podemos ser os racionais, mas não deixamos de fazer parte deste universo que descuidamos.
Aprenderemos com esta pandemia?
Aprendemos, seguramente, que há mudanças urgentes a implementar.
Passámos por celebrações duma forma mais contida, mais autêntica, mais genuína, revalorizando atitudes e presenças, com menos euforia, mas mais condizente à nossa natureza comunitária.
Abandonámos a relevância do ter, para voltarmos ao ser.
Tomámos consciência de que somos uma bolha onde todos são relevantes. O que sucede num cantinho chega ao todo.
Pensemos um pouco nestes rochedos que se ergueram das profundezas e se tornaram ilhas.
Estamos alojados num arquipélago atlântico.
Orgulhosamente, vencemos o basalto, semeámo-nos pelas encostas, alindámos e burilámos uma pérola, edificámos estratégias de sobrevivência.
De artistas do saber aproveitar a generosidade da terra, inventando a arte de levadas e poios, fomos pouco a pouco supervalorizando caminhos que hoje se questionam, abandonando outros de que hoje sentimos falta.
O crescimento exponencial do turismo, à procura do grande capital, luxo, glamour…hoje tem sabor a fel.
É relevante avaliar a necessidade de retomar caminhos, testar a sustentabilidade e menor dependência.
Não estarão muitos ovos colocados num cesto? Sim refiro-me ao cesto do turismo, da alta restauração e outras dependências em crise.
Somos um arquipélago de serviços.
Quase abandonámos a produção.
Há que repensar a Madeira neste dealbar do 2021!
Que se juntem os mais variados sectores e se construam, com participação alargada, linhas de rumo.
Sim, que se repense o turismo, avaliando quem viajará depois desta pandemia e que procura neste rincão.
Que se reveja a produção agrícola que podemos ampliar, na vertente hortícola e frutícola, sabendo tirar proveito das nossas condições climáticas e das tecnologias ao dispor, reduzindo a dependência.
Que se avalie a imensidão do mar que nos envolve!...
Que voltemos ao mar em força!
Recordo as fábricas de conservas de peixe que já prosperaram na Ilha…
A nossa floresta, a produção vegetal, as espécies subtropicais, a energia que poderia provir do composto vegetal.
Voltar à terra com dignidade e rentabilidade.
Uma festa da flor com produção exclusiva da Ilha.
O aproveitamento energético alargado do sol e calor que nos bafeja.
A investigação na nossa universidade, motor de caminhos e inovação.
Os eventos culturais diversificados, a criatividade valorizada e divulgada.
A educação generalizada, a implementação de valores e atitudes.
A formação profissional incentivada.
O desporto repensado e popularizado.
Retomar a genuinidade duma terra que respeite e inove os caminhos da tradição.
A pandemia tem de fazer-nos mais solidários, combatendo as desigualdades dum capitalismo caduco, sem os vícios de outros «ismos» decrépitos.
Repensar uma Madeira sustentável é obrigatório, é urgente.
Porque o que é nosso é Bom!
Desde que seja mesmo Nosso!