Desde novembro de 2023, que Portugal vive uma profunda crise política, com efeitos negativos na vida coletiva de todos cidadãos.
Os sucessivos escândalos baseados em queixas anónimas, o aparato na comunicação social, o julgamento em praça pública, têm arrastado a classe política na lama, provocando nas pessoas o descrédito nas instituições democráticas e desvalorizando o trabalho de muitas pessoas de bem que pugnam a sua atuação pela retidão e pelo bem maior que é servir a causa pública.
No ano em que se comemora meio século de liberdade e de democracia, Portugal encontra-se num estado lastimável, e infelizmente, o que custou tanto a tantos, corre sérias ameaças.
Na nossa Região, desde 24 de janeiro, tudo se intensificou; numa crise política sem precedentes, cavalgada por muitos seres infelizes, há que dizer com clareza que a nossa autonomia foi atacada de forma vil e repugnante!
Recordo ao caro leitor, que só a 1 de julho de 1976 que o país concedeu a autonomia política à Madeira, celebrada atualmente no “Dia da Região Autónoma Madeira”.
A nossa bandeira, a bandeira da Região Autónoma da Madeira, foi criada a 12 de setembro de 1978; a parte azul simboliza o mar que rodeia a ilha e o amarelo representa a abundância da vida; a cruz vermelha da Ordem de Cristo, com uma cruz branca nela inscrita, é idêntica àquela nas caravelas do Infante D. Henrique que descobriram a ilha.
Durante demasiado tempo, a Região Autónoma da Madeira era tratada como território adjacente, como se fosse um apêndice de um país maravilha; os madeirenses foram tratados demasiadas vezes como portugueses de segunda, e tal facto, não pode passar impune aos nossos olhos.
Não fossem os arquipélagos dos Açores e da Madeira, Portugal não teria a dimensão atlântica que tem, e por isso, é urgente que o Estado olhe para os cidadãos destas regiões em pé de igualdade a qualquer cidadão do território nacional; esta exigência impõe-se a todos os níveis, porque sermos ilhéus não é condição para termos direitos diminuídos.
A luta pela autonomia, não é uma luta de hoje, nem é um disco riscado como alguns gostam de afirmar; a luta pela autonomia é um processo com mais de 200 anos. Apesar de ter sido consagrada na constituição de 1976, a autonomia é um processo inacabado, e é por isso ainda se fala do contencioso da autonomia.
Portugal é um país com grande pendor centralista, é um país que não confia nos seus cidadãos, que não descentraliza os seus poderes, e isso é nefasto e prejudica gravemente o desenvolvimento das diferentes regiões e aumenta as assimetrias. A prosseguir este caminho, Portugal está a caminho de ser o país mais pobre da União Europeia.
Para esta triste realidade, muito tem contribuído a inação dos governos liderados pelo partido socialista, que insiste em nivelar tudo por baixo, com serviços públicos mínimos e impostos máximos. Um país que tem uma justiça cega e lenta, que continua a discutir salário mínimo e que não valoriza de forma digna o salário médio, que não valoriza as profissões diferenciadas, que condena os seus cidadãos à mediocridade social, que não ambiciona a equidade e a justiça social, é um país condenado ao fracasso e que hipoteca o futuro de todos os portugueses, em particular o futuro das novas gerações.
O grande desafio que se impõe na atualidade é saber se as novas gerações, que vivem numa Madeira onde a qualidade de vida e os índices de conforto são inegavelmente superiores aos dos avós e bisavós, estão imbuídas de um espírito de luta, de determinação, de coragem, no sentido de lutar pelos direitos dos povos das regiões.
No momento difícil que Portugal e a Madeira enfrentam, é fundamental termos capacidade de sacrifício, coragem física e psíquica para lutar, como no passado, para defender os direitos da Madeira.
Que no próximo dia 10 de março, ninguém fique em casa, e que cada um exerça a sua escolha, em consciência, ciente da importância do seu voto. Porque de que cada voto conta, e que em democracia, todos, mas todos contam, sem exceção!