O FIM DO MUNDO. A Madeira vai a caminho das terceiras eleições em ano e meio e parece que estamos perante um cenário apocalíptico. Vai cair o Carmo e a Trindade se não houver uma solução governativa estável e duradoura. O PSD/Madeira pede uma maioria absoluta para resolver o problema, e os partidos da oposição apressam-se a despir as vestes de protesto para se apresentarem como alternativa responsável.
ESTABILIDADE A MAIS foi o que tivemos ao longo destes últimos 50 anos. O PSD/Madeira governa desde 1976 na Madeira e venceu 11 das 13 legislativas com maioria absoluta. Nunca houve alternância política. Foi assim que o regime político madeirense foi ganhando tiques totalitários e caiu num clima de impunidade e corrupção. Obviamente, só uma região distante do continente europeu, vítima de anos e anos de isolamento, de défice democrático e de graves crises de subsistência, toleraria e escolheria, durante tanto tempo, um regime desta natureza.
ESTAMOS MAL HABITUADOS, não sabemos lidar com o imprevisível e a incerteza na política. As maiorias do PSD sempre foram tidas como certas. O simples facto de não sabermos qual será o desfecho das eleições antecipadas já é um avanço significativo no panorama regional. Vivemos um período de transformação política e isso é bom do ponto de vista democrático.
CAMBALHOTAS políticas em nome da “estabilidade” não são para mim. Da minha parte, prefiro disputar eleições as vezes que forem necessárias a ser bengala do PSD/M. A Madeira não está condenada a ser governada eternamente pelo mesmo partido. O mesmo já não se pode dizer do JPP, que assumiu dar a mão à palmatória ao PSD caso este ganhe novamente as eleições. Confesso-me profundamente desapontada. O que dirão os dissidentes e descontentes do PSD que votaram em protesto no JPP nas últimas eleições? Já devem estar mais do que arrependidos.
“ESTABILIDADE E COMPROMISSO” é o mote da campanha eleitoral de Paulo Cafôfo. Para descrédito total, elegeu como slogan a negação da essência do PS/Madeira: o partido mais conflituoso e troca-tintas do panorama regional. Prometem mundos e fundos e fazem apelos a acordos, mas já ninguém acredita na boa-fé da atual liderança, depois de terem traído todas as coligações por onde passaram.
PIOR DO QUE ESTÁ, NÃO FICA. Há que desmistificar as campanhas de alarmismo e desinformação nos media e redes sociais. Qualquer solução que venha daqui para a frente não será pior do que já temos. Depois de 40 anos de défice democrático e de esbanjamento de dinheiros públicos, com a bancarrota e a dívida escondida da Madeira, a cereja em cima do bolo é termos um governo acusado de corrupção.
PARA GRANDES MALES, GRANDES REMÉDIOS. As mudanças na Madeira dão-se muito lentamente. É natural que mudar a correlação de forças requeira mais tempo do que o aceitável. A maior prova dessa anormalidade política é que hoje persiste o mesmo partido no poder, apesar de mais de metade do Governo Regional da Madeira estar acusado pelo Ministério Público de crimes de corrupção e de atentado ao Estado de Direito, perpetrados no exercício das suas funções. Já lá vai um ano da Operação Zarco.
AS BOAS NOTÍCIAS são que, apesar deste impasse, é preferível a instabilidade governativa a maiorias absolutas, à corrupção generalizada e à deterioração das condições de vida. Estamos a passar um período difícil na política madeirense, sem dúvida. Mas precisamos de passar por ele para que haja uma transformação da sociedade.