O antigo primeiro-ministro, ex-presidente da Comissão Europeia e famoso ex-maoista, Durão Barroso, esteve a semana passada na Madeira numa conferência. O encontro realizou-se no Savoy Palace e marcou o ponto de partida do que me parece ser uma putativa candidatura presidencial, promovida pelo PSD/Madeira.
Após a fornada de "ilustres" políticos que o PS tem nos proporcionado na República, era só o que nos faltava, ter o PSD/Madeira a apoiar Durão Barroso a Presidente da República. Seria a cereja em cima do bolo.
O indivíduo é evitado nas hostes nacionais e europeias - nas costas de África é recebido de braços abertos. Tem lógica. Só mesmo a nossa ilhota para albergar um evento desta natureza.
Caiu em desgraça, desde a polémica nomeação para chairman da financeira multinacional Goldman Sachs, pouco tempo depois de ter deixado o cargo de Presidente da Comissão Europeia, em 2016. A contratação foi particularmente escandalosa tendo em conta o papel desempenhado pelo banco na crise financeira de 2008 e na dívida grega. O caso levantou um problema ético e um grave conflito de interesses no coração da União Europeia.
Durante a visita, como não podia deixar de ser, foi questionado sobre o ataque da Rússia à Ucrânia e em vez de evitar falar no assunto. Até porque o tema deveria ser evitado a todo o custo por razões óbvias. Responde que "o mundo não é o mesmo desde 24 de fevereiro de 2022", condenando a Rússia por iniciar uma guerra injustificada sobre um estado soberano. O que deveria ter dito é que o mundo também não é o mesmo desde 16 de Março de 2003, ocasião em que estendeu a mão a George W. Bush, presidente dos Estados Unidos, Tony Blair, primeiro-ministro do Reino Unido, e José Maria Aznar, líder do governo espanhol para a criminosa intervenção no Iraque.
Com a Cimeiras das Lajes, nos Açores, Portugal ficou irremediavelmente ligado à decisão de avançar com uma guerra, com base numa mentira, alegando a existência de armas que nunca existiram. Um embuste para justificar a intervenção militar naquele país. Numa guerra, no qual morreram meio milhão de pessoas.
Sim, não é só o Putin que é mau, também temos a nossa quota parte em crimes de guerra.
Somos mesmo maus
Igualmente mau, nestes últimos dias, foi desfecho do processo das vítimas da queda da grua no Laranjal, durante o aluvião do 20 de Fevereiro de 2010. A empresa construtora do viaduto e o Governo Regional foram ilibados do pagamento de quaisquer indemnizações às vítimas, porque o acidente se deveu a um desastre natural. A culpa foi das inclemências da natureza e as famílias das cinco pessoas que morreram ficam sem direito a qualquer indemnização pela perda dos seus entes queridos, por decisão do tribunal. Outro caso chocante, foi o da senhora, Rosa Silva, que viu a sua perna amputada, fruto de um erro médico durante uma cirurgia para colocar uma prótese no joelho no hospital Dr. Nélio Mendonça. A paciente, incrivelmente, acabou impedida de pedir a indemnização por morte do médico e até hoje nunca foi ressarcida pelo SESARAM. Por situação semelhante, foi uma mulher indemnizada pelo Hospital Garcia de Orta, em cerca de 400 mil euros. Pergunto-me para que servem os seguros se depois não são obrigados a cobrir estas fatalidades, independentemente, se foi responsabilidade de uma entidade ou da mãe natureza. Hoje, foram estas pessoas, amanhã, pode ser qualquer um de nós. São casos como estes que me recordam o quão perto estamos de África e longe da Europa civilizada.