Contudo, e com a parcimónia que o tema exige, começam a existir indicadores seguros que a tão falada variante ómicron pode ser a luz ao fundo do túnel, que solucionará o regresso a uma certa normalidade pós-pandemia.
A início, o seu grau de transmissibilidade assustou. De resto continua a assustar. Mas creio que estaremos a pouco tempo de abandonar a estafada contagem diária de novos casos, para aferir apenas as situações de internamento ou óbito.
De resto, a transmissão é de rastilho tão curto que chegou-se à conclusão que é agora inútil a exaustiva aferição de todos os contactos no período estimado de contágio. Seríamos todos confinados, se houvesse capacidade logística e de recursos humanos para tão hercúlea missão.
Temos hoje um número muito superior de contágios e casos ativos que há um ano e, demitindo-me de sucumbir à ditadura da contabilidade, isso afigura-se-me indiscutível. Todos conhecemos alguém infetado ou com contacto, e apenas falando da perspetiva daqueles que, agora por uma questão de pura sorte, ainda não foram contagiados. Não se extraia das minhas palavras qualquer apelo à desmobilização das medidas pessoais de segurança. Devem ser cumpridas, nomeadamente a utilização da máscara e o evitar de aglomerados. Mas admito que a boa fortuna tem uma parte de responsabilidade no facto de não ter, ainda, positivado. Mesmo cumprindo tudo à risca.
As próximas semanas dar-nos-ão indicadores mais sólidos quanto ao potencial de letalidade da nova variante, mas não será leviano desde já afirmar que é muito menor que as anteriores, nomeadamente nos indivíduos vacinados. Se assim não fosse, onde estão as filas intermináveis de ambulâncias e os cortejos macabros de caixões que observamos há um ano, mesmo havendo muito menos casos diários?
Está a chegar ao momento em que os decisores políticos terão de admitir que não pode mais a sociedade ficar refém da liberdade de alguns, os não vacinados, prejudicando toda um edifício social e económico. Não faz sentido enviar para casa quem não está doente ou, caso fique, tenha leves sintomas. O grande risco neste momento reside para aqueles que levantam a bandeira do direito a não se inocularem (já colocando de parte algumas teorias estapafúrdias). Se estes têm esse direito e essa liberdade, o Estado também tem de ter a liberdade de não condicionar todos os outros apenas para proteger alguns, que tomam uma decisão que consideram consciente.
Até porque muitos dos não vacinados estão a demitir-se de serem agentes de saúde pública. Os meus filhos, quando os vacinei, não receberam um crachá a dizer "vacinei-me, nunca poderei ser infetado". Não! Receberam, isso sim, um distintivo a indicar que são agentes de saúde pública. Foi por isso mesmo que quis que tomassem a vacina. Para que os seus pequenos corpos não fossem caldo para que o vírus passasse livremente e, porventura, se transmutasse. Ainda na semana passada via o jovem químico Nuno Maulide dizer que devemos tomar os antibióticos até ao fim, mesmo quando já nos sentimos saudáveis, para não deixar "bactérias vencedoras" no nosso corpo, preparadas para combater próximos fármacos. É isso mesmo que uma inoculação completa faz naqueles que aparentemente não precisam de a tomar por menor risco de desenvolver doença grave. Impede que haja vírus vencedores. Passíveis de sofrerem uma mutação mais agressiva. Pois a Ómicron não será a última face do SARS-CoV-2.
Como referi, está a chegar ao tempo do decisor político, e terá sempre de ser ele, ainda que apoiado pelos técnicos, de chancelar um regresso progressivo à normalidade, não estando dependente da liberdade de alguns.