Este título não é originário meu, é do Frei Bento Domingues no seu artigo de domingo no Público. O texto em si é fabuloso e despertou-me a criatividade, mas também a imaginação. O artigo do Frei Bento Domingues refere diversas passagens bíblicas da tentativa de Jesus descansar, mas acabando sempre por ajudar os mais necessitados.
Quando era criança, sonhava com as férias, eram as férias grandes, eram as férias do Natal, do Carnaval e da Páscoa… Naquele tempo, era para ficar em casa, brincar na estrada, no caminho do Meio em que acabávamos a correr atrás da bola pelo caminho abaixo. Quem não conhece, o caminho é uma inclinação íngreme e sem fim… descíamos a mesma rua de bicicleta, algo que hoje seria incapaz de deixar os meus filhos fazerem. Eram tantas as brincadeiras… Na época não ambicionava viajar, não sonhava nada de complexo.
Como vivia com os meus avós vivia as suas rotinas, o meu avô paterno, as férias eram para trabalhar no poio lá de casa (ah… é verdade eu também gostava de sujar-me no poio com uma pequena enxada que tinha), ele não saía para divertir-se, a sua pequena diversão era ir à casa da minha avó de Machico, a sua mãe. Eu confesso que, na altura, não pensava muito, ele deixava o seu trabalho na serragem no Largo da Saúde para ir para casa trabalhar, muitas vezes sob um sol abrasador.
As festas da Capela da Choupana, bem como das Preces em Machico eram as festas e a diversão que havia, eram estas as pequenas férias. Ah… também a excursão à volta da ilha era outra diversão, era sempre fantástico passar nos furados, a Ribeira Brava era ponto de paragem obrigatório para alívio de todos aqueles êsês. Na verdade, se pensarmos um pouco a maioria dos nossos pais, avós eram estas as férias que tinham. A trabalhar com pequenas romagens! A trabalhar no campo, a cavar… Algo que era feito ao longo do ano, mas que, nas férias, serviam para dedicar-se com mais tempo e atenção às suas hortas.
Hoje queixamo-nos! Queixamo-nos que não podemos viajar, queixamo-nos de que não podemos passear, queixamo-nos!
O ser humano necessita de descansar, muitas vezes não é um descanso físico, pois, se pensarmos, há quem vá de férias e pratique exercício… precisamos quebrar a rotina. Era isso que o meu avô fazia. O cavar, o cultivar as mantas, os regos eram esses os seus desafios.
Muitos madeirenses em zonas mais altas e mais afastadas do centro da "cidade", pouco ou nada sabiam do que era férias. Férias eram descansar, era deixar o trabalho da cidade e trabalhar em casa.
Neste momento, vemos milhares de profissionais de saúde que não têm férias há muito e não me vou referir aos de sempre, pois os de sempre são mais que reconhecidos e bem, diga-se, desde os médicos, enfermeiros, técnicos de laboratório e assistentes operacionais. Mas é importante eu voltar falar, reiterar algo que já escrevi anteriormente, isto é, daqueles invisíveis que são os profissionais nas áreas de manutenção, que tudo fazem para que tudo esteja a funcionar, que possuem, sem eles nada nos hospitais e centros de saúde funcionaria, muitas vezes, perante a sua resiliência, e carolice quando na maioria das vezes são esquecidos, eles estiveram sempre lá 24 horas por dia e todos os dias da semana, a garantir que todos os espaços estivessem preparados fosse para isolamentos de doentes Covid-19, fosse para testes Covid-19, fosse para vacinação. Os informáticos que tiveram que criar sistemas e aplicações em tempo record. Os profissionais do aprovisionamento que tudo fazem horas a fio a contactar fornecedores para garantir os mais baixo preços e qualidade dos materiais que se adquire para doentes e restantes profissionais, este trabalho é escondido, mas, sem ele, não haveria uma seringa para uma única vacina. Os motoristas e tripulantes de ambulância que tudo transportam dos mais diversos locais; O pessoal dos recursos humanos garante que todos os outros recebem o seu justo ordenado; Os financeiros que têm a missão de gerir todo o dinheiro; O pessoal da cozinha que prepara todas as refeições; Os seguranças que protegem todos; De certeza que me esqueço de mencionar outros tantos que mereciam estar nestas linhas… Mas, os invisíveis da saúde são fundamentais nesta tarefa da saúde.
Por si, pela sua família, pelos nossos profissionais faça as férias possíveis, pois aquelas que se planeou não serão possíveis, peço que faça o possível para não ter comportamentos de risco!