Contudo, por outro lado, será também uma opção limitadora, já que nos anula a imaginação individual. Por exemplo, enquanto lemos um livro, mentalmente, vamos criando o cenário onde decorre o enredo e as características e fisionomia dos vários protagonistas. Contudo, se virmos essa mesma narrativa em filme, a nossa criatividade é subjugada às escolhas dos cineastas.
Desde o aparecimento da fotografia, à medida que as técnicas e aparelhos para captura de imagem se tornaram acessíveis, quer no preço, quer na forma de utilização, o ser humano foi ganhando fascínio pelo ato retratar a sua pessoa, entes queridos, momentos da sua vivência ou as paisagens que o deslumbram. Atualmente, este gosto é levado a um ponto antes insuspeitado e talvez possamos afirmar que cada momento valha mais que mil imagens, como bem atestam os telemóveis em disparos constantes, um pouco por todo o lado. Mais do que apenas gozar uma vivência, empenhamo-nos em registá-la, não só como uma forma de a perpetuar no álbum das nossas recordações, mas também para o mostrar, ou como é moda dizer-se, partilhar com os outros.
Mais do que apreciar uma paisagem ou o detalhe de um monumento, o turista quer registar a sua presença, a sua passagem pelo local e divulgá-la. Mais premente do que observar a obra de arte, procurar entender a sua mensagem ou valor estético, é obter a "selfie" a comprovar que se esteve junto a ela. Tão, ou mais empolgante do que ouvir o concerto, é recolher imagens dele e, "crème de la crème", fazer-se fotografar ao lado do artista. Uma necessidade aumentada pelas redes sociais, nas quais as reações e os comentários dos outros dão a sensação de não estarmos sós e onde todos almejam ter o seu quinhão de visibilidade. Como em todas as áreas por onde circula o ser humano, também nesta, há exageros e, enquanto alguns se contentam com o trivial, outros fazem questão de exibir façanhas, indo até os locais mais improváveis, fotografando-se à beira de precipícios ou enfrentando as forças da natureza — um desejo de ser campeão da originalidade, tantas vezes com consequências fatais. Mas tudo isto é o espetáculo permanente em que vivemos.
E até onde chegarão as imagens? Se até aqui tudo parecia controlável, neste momento, entre o deslumbramento e o temor, enfrentamos as infinitas capacidades de manipulação oferecidas no mundo digital, no qual se vem evidenciando a Inteligência Artificial. Perante os nossos olhos desfilam todo o tipo de montagens, muitas das quais falsas. Se antes dizíamos "ver para crer", atualmente, mesmo vendo, há que duvidar. Uma nova realidade, uma aprendizagem ainda por fazer.
Para já, surpreendidos com as novas possibilidades na criação de imagens, entretemo-nos com a infinidade de fotos que fazemos e olhamos expetantes para o futuro. Com toda serenidade e absoluta certeza de não sermos ludibriados, fica-nos poder sempre visitar os álbuns de papel, esmaecido pelo tempo, onde guardamos, cristalizados, momentos do passado, em que somos jovens, os filhos meninos e em que revemos os sorrisos dos que continuam vivos na nossa saudade.