A nossa casa está a arder, e para muitas famílias em Portugal Continental e um pouco por todo o mundo, em especial no Sul da Europa, esta afirmação já não é figurativa, mas sim literal. Os que chamavam histérica a Greta Thunberg cada vez mais remetem-se ao silêncio, e os que há décadas negaram a consequência da atividade humana nas alterações climáticas cada vez são menos, felizmente. Mas chegaremos a tempo? Todo este desequilíbrio na "nossa casa" augura graves consequências para todos os que nele vivem.
Em novembro de 2019 o Parlamento Europeu declarou emergência climática, uma posição conjunta submetida pelos eurodeputados liberais, socialistas e democratas - onde se senta o PS - e a esquerda, e que mereceu a aprovação com 429 votos a favor, 225 votos contra (maioritariamente da direita) e 19 abstenções. Este momento, apesar de ser uma tomada de posição, passados quase três anos, adquire agora um simbolismo ainda maior: as atuais e futuras gerações não devem sofrer pelos erros e ganância inconsequente das gerações passadas.
São assim precisas medidas estruturais para reverter e limitar o aquecimento global a 1,5ºC e evitar a perda massiva da biodiversidade. Temos um dos maiores pacotes legislativos atualmente a serem negociados nas instâncias europeias, mas, a nível local e regional, não podemos alhear-nos das responsabilidades. Urge um Plano Regional de Combate às Alterações Climáticas e não parcas medidas que não respondem de modo estrutural e duradouro aos difíceis desafios futuros que se avizinham.
A nível europeu e desde o início do meu deste mandato, em julho de 2019, tenho defendido a importância de uma abordagem de uma só saúde em todas as políticas europeias. A verdadeira integração da tríade ambiente, saúde animal e saúde humana. Porque o combate à emergência climática será a maior batalha das nossas vidas, pela nossa saúde e de todos aqueles que cá habitam. Senão vejamos: a emergência climática ameaça regredir em 50(!) anos o desenvolvimento global, afetando os principais determinantes sociais e económicos da saúde. Na próxima década, e até 2050, representará cerca de 250 mil mortes adicionais por ano, cerca do equivalente à população madeirense. E se estes números ainda não o fazem tremer da cadeira, saiba que a previsão dos custos directos em saúde das alterações climáticas serão cerca de 2 a 4 milhares de milhões de euros por ano já em 2030.
Estamos em contra-relógio e não temos um segundo a perder. Precisamos de medidas ambiciosas e imediatas, com uma forte base científica e alocando os recursos disponíveis a soluções mais limpas e sustentáveis. Urge envolver os cidadãos nesta profunda transformação da nossa sociedade e economia, que têm de ser acompanhadas de fortes medidas inclusivas e sociais de forma a garantir que esta transição, urgente, seja justa e equitativa. A UE tem-se assumido cada vez mais como líder mundial no combate às alterações climáticas. Através dos inúmeros acordos comerciais sabemos que as boas práticas na UE podem espalhar-se aos quatro cantos do globo. Porque esta não é uma luta dos países e regiões mais suscetíveis às consequências do aumento da temperatura - é uma batalha global e merece uma resposta global e urgente. Não podemos ter calma quando a nossa casa está a arder.
Sara Cerdas escreve ao domingo, de 4 em 4 semanas