No dia de Carnaval, já se sabia que, a qualquer momento, eles iam aparecer. Surgiam de vários pontos da freguesia, todos bem disfarçados. A ideia era não serem descobertos. Camuflavam tudo.
Escondiam qualquer parte do corpo que os pudesse denunciar, até a voz. Falavam por entre os dentes e, por vezes, apenas por gestos. Os mascarados vinham à procura de malassadas. Traziam um saco para as ir colocando. Não comiam no local, porque isso implicava tirar a máscara e, logo aí, podiam ser descobertos.
Os disfarces que usavam eram os mais variados. Lá em casa, tudo o que era velho servia para a indumentária: as roupas, os sapatos, ou as botas, os chapéus e até sacas de lona serviam para fazer um disfarce. O importante era não ser reconhecido ou reconhecida. Em alguns casos, até se usava carvão do lar para pintar a cara e as mãos. Os disfarces não eram muito requintados, até eram mesmo muito básicos. Alguns ainda se davam à maçada de construir a própria máscara. Um pedaço de cartão, com rasgos para os olhos, para a boca e para o nariz, por vezes, era suficiente. Tudo isto suportado por um bocado de elástico usado em peças de roupa. Com o andar dos tempos, começaram a surgir máscaras que eram vendidas em algumas mercearias, e aí já apareceriam alguns com disfarces mais evoluídos.
No dia de Carnaval, a meio da tarde, o cheiro das malassadas propagava-se por todo o lado. Em quase todas as casas, era por essa altura que, após amassadas e levedadas, se começava a fritar. Era também por essa altura que eles, os mascarados, começavam a aparecer. Batiam à porta à procura da respetiva recompensa. Por vezes, entravam uns, e logo a seguir já surgiam outros. As visitas eram rápidas. A ideia era a de ficar o menos tempo possível, precisamente para não dar grandes hipóteses de serem descobertos. Recordo-me de, lá em casa, tentarmos meter conversa o mais possível, para ver se, por um gesto ou por uma simples fala, se descobria quem estava por detrás daquele disfarce. As tentativas eram várias, mas, por norma, os mascarados não se “descosiam”. Era um exercício complicado.
Normalmente, só no dia seguinte e, por vezes, até dias mais tarde, se vinha a saber quem por lá tinha passado por detrás daquele disfarce.
Pelo meio de tudo isto, havia também quem provocasse algumas brincadeiras. Por vezes, as malassadas tinham um recheio diferente. Havia quem metesse no meio da massa algodão, para enganar os mascarados.
Resumindo, no fim de cada carnaval, o que permanece são os risos partilhados, os disfarces improvisados e o aroma irresistível das malassadas.