Quem nunca ouviu a expressão “fugir com o rabo à seringa”? Ou, “a culpa morre solteira”? Expressões para caraterizar a falta de responsabilidade de alguma coisa, ou a fuga à mesma. As eleições para o parlamento madeirense ocorreram a 26 de maio deste ano, sensivelmente, há 20 dias, mais coisa, menos coisa. Durante este tempo todo tivemos para entretenimento uma possível coligação, chamar de possível é capaz de ser um pedacinho exagerado, um baixar de calças, e outro ficar com as calças na mão. Estamos a começar com estas expressões bonitas que espero não continuar a usá-las, pelo menos no seguimento da crónica deste mês, para o próximo já ninguém se lembra do que se escreveu... Ora bem, vejamos o que nos levou e atirou para esta crise política, e os seus responsáveis, mas antes um pouco de história...
No início deste ano caí o escândalo que vê presidente do Governo Regional, presidente da Câmara Municipal do Funchal, e empresários de grandes grupos económicos envolvidos em suspeitas de corrupção, prevaricação, abuso de poder e tráfico de influências. Deste escândalo saímos com o presidente do Governo Regional arguido, para não falar dos restantes. Protegido sobre o manto da imunidade, como membro do Conselho de Estado, há a demissão do chefe máximo do Governo Regional, ao qual se juntou o restante governo, esta demissão ocorreu nas vésperas da discussão do Orçamento Regional, deitando por terra a aprovação do mesmo, logo continuamos a “sobreviver” em duodécimos e em “gestão corrente”. Novas eleições foram marcadas e ninguém consegue garantir uma maioria estável. E cá nos encontramos a meio de ameaças, incoerências e aquelas jogadas políticas que tanto gostamos. Mas quem são os responsáveis por esta crise política?
Em primeiro lugar, Miguel Albuquerque - Tudo começou com ele, é ele que está a ser investigado pela Ministério Público, é ele que é arguido no processo. Também foi Miguel Albuquerque que fez finca pé naquilo que poderia ter sido a aprovação do orçamento regional em fevereiro. Logo, não há como fugir à lógica, sem caso/investigação do Ministério Público, sem o estatuto de arguido, o governo não cai, e tudo continuava como antes. Não nos enganemo-nos, Miguel Albuquerque e a sua cumplicidade com os grupos económicos trouxeram-nos aos dias de hoje e a esta crise política.
Segundo lugar, os grupos económicos - A ânsia de poder e de levar tudo à frente, sem olhar a meios, fez com que a parte da corrupção, que o Ministério Público investiga, trouxesse a demissão de um governo.
Terceiro lugar, o PSD-M - Este é, de facto, um ponto peculiar. A alimentação do PSD-M por parte dos “senhores disto tudo”, faz com que a propagação Albuquerquina continue tendo escorraçado os adversários políticos dentro do próprio partido, que teve a possibilidade de escolher outra liderança, mas preferiu continuar com um arguido, numa noite das laranjas longas.
Quarto lugar, PS-M e Paulo Cafôfo - Com um governo tão fragilizado a manutenção do mesmo número de deputados em relação às eleições de setembro de 2023, mostram um partido estagnado em que perde a voz da oposição madeirense a cada eleição que passa, estas últimas eleições europeias são exemplo disso, que se salvam pela eleição do único deputado madeirense para o parlamento europeu, não por causa na Região, mas por causa do resultado nacional.
Quinto lugar, os restantes partidos - JPP, começa a aparecer como a verdadeira oposição ao PSD-M e tem de assumir esse vácuo criado por PS-M que não sabe direito o quer, terá a obrigação de cimentar esse lugar. CDS, continua como muleta, e o povo não quer muletas, IL, parece um disco riscado em que também continua num limbo ideológico, se quer mesmo ser liberal ou se quer imitar a IL nacional, PAN é o partido dos ideais ocos, e o Chega, bem... Já chega. CDU e BE, desapareceram do parlamento regional e estão mais perto do desaparecimento regional se não se preocuparem com a renovação dos mesmos.
O povo é soberano. Os resultados eleitorais assim determinaram que não havia maiorias para ninguém, quem foi eleito tem de saber lidar com isso, sem entrar em joguinhos de medos e histerias.
P.S: Onde andava o presidente da ACIF, as casas de saúde, etc., em fevereiro quando o Albuquerque não quis aprovar o orçamento regional?