Portugal precisa de um novo paradigma. Um novo rumo para a sua economia e as suas gentes. 2024 começou cheio de esperança e as mesmas preocupações. Os velhos debates e muitas propostas que acabam sempre por manter o “status quo” e o conluio de interesses em detrimento do bem comum.
Vivemos hipnotizados pela tecnologia, mergulhados em falsas solidariedades e reféns de competições doentias. Com desdém pela diferença, pela opinião alternativa e pela mudança. O ego e o orgulho, quanto maiores, mais difíceis de quebrar. Vivemos, pois, tempos estranhos onde o amor de muitos se tem esfriado.
No próximo dia 10 de março, Portugal terá mais uma vez eleições legislativas. Independentemente do espectro político e ideológico de cada um, Portugal precisa de um novo paradigma fundamentado em princípios éticos e valores humanistas, inclusivos e pluralistas, centrados na pessoa humana, em prol do bem comum e do serviço aos outros.
Para muitos as vivências e experiências da pandemia foram já esquecidas. O aumento das desigualdades, a disparidade no acesso aos recursos e serviços, o desrespeito pelo exercício de direitos pessoais e coletivos, a exploração da pessoa humana, o desinteresse pelas questões ambientais e a hipnose por recursos monetários e “mercadorias fictícias” têm feito das nossas vidas um emaranhado de armadilhas físicas, sociais e espirituais.
Que país queremos após as eleições de 10 de março? Será certamente insustentável continuar com a atual economia de mercado e regras do jogo, nos rendimentos, na carga fiscal, no sistema de saúde, na educação, na proteção social e na habitação, entre outras áreas. Os valores da democracia substantiva, a justiça distributiva, o bem-estar social, os direitos humanos e a sustentabilidade ecológica, entre outros, são inegociáveis.
Os princípios da Economia de Francisco constituem assim uma mudança paradigmática, assentes na redescoberta da exortação mística de Francisco de Assis, também conhecido como “o poverello de Assis”, princípios esses impulsionados pelo apelo feito pelo Papa Francisco a todos, sobretudo aos jovens, a se posicionarem e responderem às crises do presente. Reparar este sistema doente, esta economia de mercado, segundo uma visão ética e humanista inspirada na experiência franciscana, e explorar formas diferentes de pensar e fazer economia, é deveras urgente.
No próximo dia 10 de março, é imperioso “reparar a ‘nossa’ casa que está toda a cair”, pensar em novas formas e políticas centradas na dignidade da pessoa humana, na ecologia e desenvolvimento integral, na fraternidade e importância dos bens-comuns, na inclusividade proposta pelo Papa Francisco (em Fratelli tutti), nas relações e formas de trabalho, na relação com o lucro, riquezas e recursos por forma a centrar a dignidade da pessoa humana e repensar que bem-estar queremos e precisamos.
Estejamos pois atentos, disponíveis e comprometidos com a dimensão da pessoa humana, a responsabilidade intergeracional, a ecologia integral, e o desenvolvimento sustentável nas suas dimensões económica, social e ambiental. Sejamos todos Fratelli Tutti!
*Faculdade de Ciências Humanas, Universidade Católica Portuguesa