Todos os municípios portugueses que fazem parte da Associação dos Municípios Portugueses do Vinho integram igualmente a Rede Europeia de Cidades do Vinho (RECEVIN), num conjunto de iniciativas que projetam concelhos de todas as regiões vitivinícolas do país.
É merecedor de destaque o facto de, embora não sendo o único concelho da Região Autónoma da Madeira a integrar esta associação que representa os interesses dos municípios portugueses produtores de vinho, o Porto Moniz tenha sido escolhido para albergar a delegação regional de uma entidade com representatividade de mais de um terço dos concelhos portugueses. Se para a maioria a pergunta poderá ser: "Porquê no Porto Moniz?" julgo que a questão que se impõe é precisamente ao contrário: "Porque não no Porto Moniz?".
O facto de esta escolha ter recaído sobre um concelho do Norte deveria servir de exemplo para quem governa a nossa Região. Aliás, não se pode querer lutar contra uma Região ou um País a duas velocidades e continuar a achar que todos os Ministérios devem ser em Lisboa e todas as secretarias Regionais devem ser no Funchal.
Já é tempo de nos mentalizarmos que fechar serviços a Norte para concentrar a Sul contribui claramente para o despovoamento dos concelhos mais afastados das chamadas "centralidades". Os concelhos do Norte precisam de medidas que permitam contrariar a tendência e possibilitar o incremento da atratividade para fixar população.
Em boa hora a Associação dos Municípios Portugueses do Vinho rema contra a maré e escolhe o Porto Moniz para instalar a sua Delegação Regional porque aqui também temos viticultores que produzem uvas para o Vinho Madeira, porque aqui são produzidos bons vinhos tranquilos e até espumantes. Porque não o Porto Moniz?
Só a título de exemplo e para que se perceba que ainda não estamos no rumo certo, esta semana começa mais uma edição de um dos eventos com maior destaque no cartaz de festividades da Região Autónoma da Madeira. Importa a este respeito questionar por que motivo este ano, à semelhança do que tem acontecido todos os anos, nenhuma das atividades programadas no âmbito da Festa da Flor chega aos concelhos do Norte? Por que razão o desfile de viaturas antigas não é no Porto Moniz? Por que motivo não há concertos em São Vicente ou uma exposição e flores em Santana?
Nem vou ao extremo de querer todos os anos atividades nos três concelhos mais distantes do Funchal, mas viria algum mal ao mundo se, em cada edição da Festa da Flor, um dos concelhos do Norte fosse escolhido para receber uma iniciativa?
Não fosse o esforço hercúleo das autarquias a contrariar a tendência, um turista que visita a Madeira ou o Porto Santo por esta altura acharia que a Festa da Flor não é uma iniciativa de âmbito regional.
Desejo sinceramente que o arrojo da Associação dos Municípios Portugueses do Vinho ao escolher o Porto Moniz para receber a sua delegação regional abra caminho para outras entidades se lembrarem do que muitas vezes se esquecem: a democracia, entre outras coisas, deve primar por descentralizar para aproximar.
Quando é que o Governo Regional decidirá começar a dar ao Carnaval, à Festa da Flor ou à Festa do Vinho outros palcos que não a Praça do Município, a Placa Central da Avenida Arriaga, o Largo da Restauração ou a Praça do Povo?