Muitos têm o dom da palavra. Outros precisam de treinar até aprender a argumentar sem gaguejanços.
Há quem demore mais a aprender a verbalizar o que pretende transmitir, é verdade. Nestes casos, gostaríamos de pensar que se atrapalham simplesmente por sentirem o dever de utilizar as palavras com honestidade. Para não faltar à palavra, pois claro. Mas não. Ou pelo menos não tanto quanto seria desejado.
A palavra, obviamente, está diretamente relacionada com o poder de argumentação. Não significa que quem argumenta mais e melhor tem sempre razão. Bem pelo contrário. As gentes que se diferenciam pela simplicidade têm, não raras vezes, a força da palavra bem enraizada. Se dizem que sim, não falham. Não brincam com as palavras à procura da verdade que lhes é conveniente.
No Parlamento madeirense, por exemplo, palavras não faltam. Nem que seja recorrendo à meritória cábula que reflete preparação e evita muitas – não todas – asneiras. Ainda assim, aqui e ali, talvez pela tensão do momento, e têm sido muitos, acaba sempre por escapar uma ou outra atordoada. Mais comum nalgumas personagens, é verdade, mas quem nunca?
A palavra dada, no entanto, deveria ser honrada. Mas não é o que se vê. Num dia está tudo certo, no outro só se veem falhas e se descobrem falcatruas.
Que metade do Governo da Madeira terá de responder à Justiça não é novidade. O que mudou, talvez, tenha sido a perceção em torno do momento de fragilidade que atravessa quem tem o poder na Região. E vale tudo para assegurar um vislumbre de mudança, inclusive conciliar aqueles que diziam ser inconciliáveis. Já se percebeu, portanto, que o importante serão os fins e não os meios para lá chegar.
Miguel Albuquerque, como aconteceu recentemente, volta a ser o elefante na sala. Se sair já não há censura, diz a Oposição. Uma reprovação que volta a chegar em vésperas do Orçamento, com promessas de prejuízos para a economia regional.
Independentemente das dicotomias políticas e das uniões de circunstância, parece evidente que a Madeira sofre de maturidade democrática. Será que não é possível governar sem maioria? Parece que não.
Num Estado democrático, a figura do Governo minoritário devia ser defendida e enaltecida. Porque se os partidos da Oposição negociassem medidas com o Poder, o Parlamento sairia reforçado, favorecendo os interesses das pessoas que sufragaram as promessas eleitorais das forças que conquistaram assentos parlamentares. Seria necessário entendimento e diálogo, o normal quando a escolha dos eleitores resulta em pluralismo parlamentar.
Só que não há entendimento possível sem respeito. E na ausência de consideração pelo colega de bancada, seria necessário priorizar e não faltar à palavra com quem os elegeu.
Mais importante do que andar a discutir quem governa, importa perceber o que importa, denunciar o que está mal e exaltar o que está bem. A palavra, depois, é sempre do povo. Que ao invés dos partidos, já está cansado de ser chamado a argumentar nas urnas.
Entendam-se. Os ziguezagues já indispõem.