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Artigo de Opinião

Advogada

24/08/2022 08:00

Neste período pensei nos amigos, familiares e crianças tão "especiais", que tenho o privilégio de conhecer, e que levam consigo a deficiência, as tais "necessidades especiais".

Desde muito pequena que lido com crianças, jovens e adultos tão diferentes de mim e que considero tão mais dignos. Porquê? Porque, não estando munidos das capacidades psicomotoras e cognitivas que possuo, encerram em si uma simplicidade, uma leveza, uma pureza que não consigo vislumbrar noutras pessoas. Para eles tudo é suportável e há sempre um sorriso, não obstante o que lhes tenha sido tirado.

Nas visitas que em contexto de catequese efetuávamos, anualmente, ao Centro de Reabilitação Psicopedagógica da Sagrada Família, localizado em São Roque, Funchal, e que é dirigido pelo "Instituto das irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus", não podíamos ficar indiferentes aos olhares, ao toque, aos abraços sentidos com que cada uma das crianças e jovens nos presenteava.

Obrigada, Irmãs Hospitaleiras e demais comunidade de colaboradores, por trazerem vida, amor a cada um dos que vos é entregue! Com todos eles aprendi que há mais alegria em dar do que em receber e que sou uma privilegiada por aquela menina me ter pedido um abraço tão sentido, tão profundo, que nos inunda o coração de Amor, por me ter pedido para tocar nas minhas mãos e olhar para elas como se fossem as mãos que a tivessem embalado!

Li na edição do Expresso do dia 12 de agosto que a "Associação Dom Maior" organiza, anualmente, uma colónia de férias para as crianças e jovens com paralisia cerebral, autismo, atrofia muscular cegueira, doenças raras e cancro, e ali há outras tantas que são saudáveis. Aqueles dias são tão especiais para todos eles, pois dormem em tendas, mergulham na piscina, aprendem a ser atletas e artistas de circo…, ali acontece inclusão e dizem que "Viver a vida é espetacularmente espetacular".

É ao sentir a alegria que cada um deles experienciou, na dita colónia de férias em que aconteceu "inclusão", que apelo a que se torne efetivo o direito de todas as pessoas com deficiência e incapacidade viverem na comunidade em igualdade de oportunidades. Bem sei que há uma "Estratégia Nacional para a Inclusão das Pessoas com deficiência (2021-2025)" e que o Decreto Legislativo Regional número 21/2022M, de 17 de agosto, definiu o regime jurídico de apoio técnico e financeiro à integração e manutenção no mercado de trabalho das pessoas com deficiência e incapacidade na Região Autónoma da Madeira… e que bom que assim é! A verdade é que não conseguimos, ainda, alterar mentalidades que julgam estes nossos amigos como "coitadinhos", olvidando que "quanto menos entendemos é aí que mais julgamos"!

Após regressar de férias um grande Amigo, com 11 anos e com paralisia cerebral, quis falar comigo e disse-me: "Paulinha, estás bem? Como é que tu estás? Está tudo bem contigo?" Respondi: "Rodrigo, meu querido, estou bem, e como é que tens passado?" … e assim fomos conversando numa linguagem de Amor e Amizade, tão simples e tão genuína…!

Obrigada, Rodrigo… que bom que é caminhar nesta vida com Amigos como tu…, os teus pais, avós e a tua amiga Paulinha tudo farão para que possas viver numa sociedade que te inclui e que nunca te excluirá. Que assim seja!

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