Nesse dia Sua Santidade fez questão de estar ao lado, de fazer caminho, junto daqueles que sofreram e continuam a sofrer, num tremendo gesto de humildade, dizendo a todos nós que muitos dos que sofrem estão desiludidos e nutrem aversão pela Igreja "devido ao nosso mau testemunhos e aos escândalos que desfiguram o seu rosto e que nos chamam a uma humildade e constante purificação, partindo do grito de sofrimento das vítimas que sempre se devem acolher e escutar".
Já no regresso a Roma, o Papa referiu na conferência de imprensa que falar com as pessoas que foram sexualmente abusadas "é uma experiência muito dolorosa, o que também é bom para mim, não porque gosto de ouvir, mas porque me ajuda a lidar com este drama".
O Papa Francisco faz-nos, assim, perceber que é a escuta do que está fragilizado, é a escuta dos momentos de crise que nos impele a correr, a querer cuidar, a amar. E este amor leva-nos a que em cada dia tudo façamos para que o nosso próximo não volte a sofrer ou que sofra cada vez menos.
Mas como? Com os tais gestos muito simples e pequenos, mas igualmente com a adoção de políticas concretas "que não descartam a vida humana, que não colocam muros de arame farpado, que não permitam mais mortes no mar mediterrâneo", que não permitam a criação de campos de refugiados, onde tantas e tantas vidas são violentamente ultrajadas, que não permitam um constante aumento do custo de vida.
É fácil? Não, mas é possível! E neste caminho não há quem não venha a cair, a falhar, pois a vida não é perfeita, nem isenta de quedas, mas são estas que darão a capacidade de alcançar que não é solução o imobilismo, o conformismo, a apatia, a tristeza. Precisamos, por isso, dos tais "mestres de humanidade, mestres de compaixão, mestres de novas oportunidades para o planeta e seus habitantes, mestres de esperança" e do amor para concretizar as tais políticas que não são compatíveis com simples medidas paliativas ou com tímidos compromissos que fingem fazer acontecer sem que nada se altere. É hora de fazer caminho!
Deveremos ser ousados, destemidos e realisticamente procurar, sempre, a solução mais justa para cada momento difícil, colocando o melhor de nós em tudo o que fazemos, mas devendo, sempre, ter "cuidado com os egoísmos disfarçados de amor". E para esta façanha precisamos de todos para desenvolver esta Região, este País, a humanidade. Quais todos? Todos aqueles que são pessoas "que erram, que caem, que sentem dificuldades" e que continuam a caminhar, não olvidando que a "contribuição feminina é indispensável", pelo que estas deverão, também, ser titulares no jogo da vida e não consideradas como apenas "suplentes".
Quantas e quantas vezes há quem teime em ocupar os primeiros lugares, deixando os últimos para os que consideram ter menos valor. Quantas e quantas vezes se tentam esconder os marginalizados para que não seja visível uma miséria que cheira mal para alguns e que para outros é uma vergonha? As minhas raízes sempre me ensinaram, desde tenra idade, que aquele que ali está na beira do caminho poderia ser eu e que por isso devo cumprimentá-lo, respeitá-lo como pessoa que é.
O Papa Francisco diz-nos, agora, que "o único momento em que devemos olhar alguém de cima para baixo é para o ajudar a levantar".
Que assim seja e que com este testemunho e ensinamentos do Papa Francisco, por ocasião da Jornada Mundial da Juventude em Lisboa, nunca nos cansemos de continuadamente "reavivar o desejo de criar coisas novas, de nos fazermos ao lago e navegar (todos) juntos, com amor, rumo ao futuro".