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Artigo de Opinião

Advogada

4/10/2023 08:00

Os dados estatísticos dizem-nos que em Portugal há 20 mil crianças em risco de pobreza e o relatório do Eurofound evidenciou que em 2022, nas zonas urbanas dos diferentes países que fazem parte da União Europeia, oito milhões de crianças viviam em situação de pobreza ou exclusão social.

Ora, e o Serviço de Estatística da União Europeia (Eurostat) dá-nos conta de uma evidência, que tantas vezes os governos tendem a desvalorizar, e que se traduz no facto de as crianças que crescem em situação de pobreza correrem o risco de em adultas alcançarem o desemprego e a exclusão social.

Conheço alguns adultos que quando crianças viveram uma situação de profunda miséria e que nunca, nunca, desistiram de contrariar o seu destino. Andaram por caminhos pedregosos, caminhos difíceis, escondendo a fome que traziam no estômago, que o sorriso não denunciava, e são hoje pessoas com responsabilidades desportivas, sociais, políticas, empresariais, homens e mulheres que abraçam causas e que contribuem para um desenvolvimento digno da sociedade.

Ao invés, outros conhecerem o abandono escolar, o desemprego, uma vida de vícios, completamente desregrada e que vão tentando sobreviver.

Também conheço crianças que no nosso país se levantam muito cedo (6h30) para frequentar um estabelecimento de ensino que fica a vários quilómetros de distância da sua casa à qual apenas regressam no início da noite.

As crianças, os jovens (todos sabemos) são um dos bens mais preciosos de uma sociedade e quando não permitimos que cresçam em graça e sabedoria, então, falhamos, falhamos todos, como sociedade, como país, como mundo.

É, sempre, possível melhorar, sempre, e não nos podemos conformar com o inevitável que nos diz "que pobres sempre os vamos de ter". Ainda que tal possa ser verdade, todos somos responsáveis por contrariar essa inevitabilidade, mormente os que têm responsabilidades políticas. O investimento público, o investimento privado é, sobremaneira, importante para gerar riqueza. Mas se essa riqueza não procurar respostas para combater as assimetrias sociais, então, alguma coisa não vai bem, nesta sociedade, neste mundo que, então, se passa a preocupar com uma pequena elite e não com um todo!

O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) referiu-nos no pretérito mês de setembro que mais de sete milhões de crianças refugiadas não têm acesso à escola e, consequentemente, assim se fecha mais uma janela de oportunidades para estas meninas e meninos que já conheceram tantas provações.

Nunca é tarde para colocar na vida daquela criança em risco de pobreza, ou a viver uma situação de extrema pobreza, uma réstia de esperança que lhe permitirá sonhar com a alegria de viver uma vida que vai para além da miséria.

Que os políticos tenham o engenho e a arte de concretizar programas que permitam erradicar a pobreza e colocar naqueles meninos e meninas, socialmente fragilizadas, "o desejo de olhar para o mar distante e sem fim para que, então, um dia, quando estiver viva esta sede, se metam ao trabalho para construir o navio" que lhes facultará o acesso ao mundo que os acolherá, espontaneamente, sem qualquer limitação ou discriminação.

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