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Artigo de Opinião

Engenheiro

3/03/2022 08:00

O que temos assistido nos últimos dias no conforto das nossas televisões é o resultado de uma apatia cobarde e generalizada do mundo civilizado, perante a ascensão de um tirano autocrata que tem por especiais interesses envenenar líderes da "sua" oposição e andar a cavalo de tronco nu.

A Ucrânia sempre foi uma espinha atravessada na garganta de Vladimir Putin… uma democracia praticante, uma liderança esforçada e com uma visão de futuro europeu ao virar da esquina. E se os russos se começarem a comparar? Então para que serviu a Glasnost e a Perestroika, afinal foi bom só para os outros? Os russos continuam a viver atrás da cortina de ferro. Com uma democracia de fachada, opressão quanto baste e liberdade em doses mínimas, Putin conseguiu controlar o país. Com a conivência energética e cerealífera de vizinhos mais afastados e abastados, Putin implantou-se e empanturrou-se e agora quer o que acha ser dele por direito… e vai mesmo a direito.

Se Churchill estiver atento ao que se está a passar, provavelmente refastelado numa grande poltrona e com um charuto entre dentes, deve estar a desancar nos fracos líderes com que o novo milénio brindou o velho continente. Mas é que se estava mesmo a ver, estava mesmo à vossa frente, com o Hitler foi igual, estavam à espera de quê para agir? A Grande Germania e a Mãe Rússia, a mesma história. O argumento da língua e do espaço vital… só mesmo quem não quer ver… ou tem medo de ver. A paz na Europa, os tratados, a ONU… retórica vã de quem não quer enfrentar a realidade. Do alto do seu realismo cínico diria: Um apaziguador é alguém que alimenta um crocodilo na esperança de ser o último a ser devorado…. Pois é, parece que temos muitos tratadores amigos de répteis e poucos domadores de pelo na venta.

A Europa tem-se aburguesado em demasia, tem-se preocupado com causas importantes e tem esquecido as coisas importantes. Os europeus ditos de bem estão numa cruzada civilizacional apoteótica e deslumbrada. Esquecem-se, no entanto, que o presente é sempre uma realidade transitória e nem sempre justa, basta pensar na covid-19. As causas são muitas e algumas meritórias, mas a deriva é já preocupante. As questões da igualdade de género esbarram o ridículo, a cultura do cancelamento é acintosa, o policiamento da linguagem é troglodita, a imposição de hábitos alimentares é pidesca, o bem-estar animal ultrapassa o razoável e também o humano. Além deste espartilho social e comportamental, que uniformiza em demasia a sociedade e a infantiliza, as questões estratégicas e vitais estão a ser dominadas pela política light e inconsequente. Andamos distraídos a escolher o carro elétrico que vai salvar a Amazónia e o Panda Gigante, mas outros andam a pensar noutras coisas e a fazer pela vida… a vida deles.

Mas como se tudo isto não fosse já suficientemente mau, nestes dias, no Parlamento Europeu, os comunistas lusos votaram contra as sanções à Rússia. Esta foi a cereja no topo do bolo, neste caso, a cereja bem vermelhinha no topo do Putin flan. Mas não foram apenas os netos do avô Jerónimo a entusiasmarem-se com a ideia da Mãe Rússia em expansão, as bloquistas, felizmente agora em menor número, também se galvanizaram. Mas como são mais matreiras, rapidamente se camuflaram de pacificadoras e agarraram a bandeira azul e amarela, vamos ver até quando. Agora percebo a esquerda radical cá do burgo, PCP… Portugueses Compinchas do Putin, BE… Bolcheviques Encartadas… que grande salada russa.

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