A atual legislatura está marcada por um pot-pourri de demissões, saídas, escândalos e fugas de informação: encerramentos de urgências, que nem a famigerada troika provocou; ministros em polifonia sobre política fiscal, como demonstrou Costa e Silva quando quis uma baixa de IRS; o famigerado despacho para a construção do novo aeroporto, embaraçosamente anulado pelo Primeiro Ministro; milhares de euros jogados ao ar para a não-construção do pavilhão em Caminha. Certamente não faltou material para criticar o governo ao longo deste ano.
A mudança de liderança no principal partido da oposição - o PSD, para quem não se recorda - fez-se anunciar com pompa e circunstância, como algo que iria romper por completo com a anterior liderança, mas ainda não se notou qualquer efeito na configuração das preferências políticas dos portugueses, como se constata nas sondagens mais recentes.
Assim, o PS mantém-se no poder, mais pela inaptidão da oposição, do que pela capacidade própria de demonstrar uma visão e um caminho para o país. António Costa continua confortavelmente a dizer para nos habituarmos à sua maioria absoluta. Continua confortável com a sua estratégia de olhar o país como quem gere um condomínio: em vez de projetar um futuro, vai-se gerindo casos diários dos seus condóminos. Pelo meio, distribui apoios avulsos à população, procurando anestesia-la perante desafios cada vez maiores, devido ao aumento do custo de vida.
É aqui que seria fundamental ouvir alternativas. Discutir que reformas necessita o nosso país para conseguir superar não só os desafios atuais, mas ser a melhor versão do nosso país para o futuro. Para isso é preciso tempo e proximidade junto dos cidadãos.
Só por si, as eleições antecipadas não resolvem esta situação. A situação da oposição indicia terrenos pantanosos, que poderiam não resolver nada, minando a própria decisão presidencial de usar a "bomba atómica". É até curioso, que aqueles que mais criticaram Jorge Sampaio sejam agora os primeiros a clamar por nova dissolução. Note-se, este acaba por ser o mesmo grupo de protagonistas que mais criticaram a criação da Geringonça - chamando-lhe uma aberração política pois quem tinha ganho as eleições fora a coligação PSD/CDS - mas agora esquecem dos princípios fundadores do PSD, equacionando fazer outra coligação negativa, mas com a muleta da extrema-direita.
É fundamental que a qualidade da mensagem da oposição seja mais que sobranceria executiva. É necessário vislumbrar mudanças políticas no nosso país.