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Artigo de Opinião

Professor

10/10/2022 08:00

Neste panorama, destacam-se cada vez mais os contributos literários que procuram aclarar o papel das mulheres no seio da emigração. Um dos lados, como refere a investigadora no domínio da História das mulheres e do género, Irene Vaquinhas, "menos conhecido e estudado do fenómeno migratório".

É o caso do livro Tamem Digo - Uma História de Migrações, recentemente lançado, do escritor e ativista natural de Amarante, e atualmente a residir em Bruxelas, Jorge Pinto. Coautor em 2019 do livro Rendimento Básico Incondicional: Uma Defesa da Liberdade, ano em que venceu o Prémio Ensaio de Filosofia da Sociedade Portuguesa de Filosofia; e das bandas desenhadas Amadeo e Liberdade Incondicional 2049, Jorge Pinto apresenta no seu novo livro uma homenagem à sua avó e às mulheres que ficaram para trás durante a vaga de emigração para França na década de 1960.

Profusamente ilustrada pela artista lusodescendente Júlia da Costa, a obra biográfica com chancela da Officina Noctua, conta a história de Maria do Carmo, avó do autor, natural da freguesia de Olo, que no limiar dos anos 60 foi uma de milhares de mulheres que asseguraram a retaguarda familiar em Portugal, enquanto os homens emigravam.

Num país estruturalmente condicionado pelo regime autoritário e conservador que vigorou entre 1933 e 1974, a miséria rural, a ausência de liberdade, a fuga ao serviço militar e a procura de melhores condições de vida, impeliram entre 1954 e 1974, a saída legal ou clandestina, de mais de um milhão de portugueses em direção ao território francês.

Essencialmente masculino e oriundo das regiões rurais do norte e centro do país, o fluxo migratório em massa com destino à França, como sustenta Mélanie Mélinda Dias Lopes na tese de mestrado Memórias do salto: memórias da emigração ilegal para França, entre 1954 e 1974, "foi um factor de aumento da probabilidade de celibato para a população feminina (…) ou às chamadas viúvas de vivos". Ainda que, a partir dos anos 60 as mulheres tenham começado "a emigrar para França com os maridos ou juntar-se a eles posteriormente, e assim assiste-se a um reagrupamento familiar".

Como realça Jorge Pinto na introdução do seu novo livro Tamem Digo - Uma História de Migrações, a "Maria do Carmo, a Avó Carmo, foi e é uma mulher como tantas outras, com uma vida que poderia ter sido a das vossas avós, das vossas mães ou das vossas irmãs. Nasceu pobre numa aldeia no Norte de Portugal, sobreviveu, emigrou, regressou, tentou viver, amou e foi amada. Onde esteve, foi sempre uma entre muitos. E é por isso que quero falar dela. A História está cheia de heróis, falta-nos falar da gente comum, dos seus sucessos e falhanços, das suas alegrias e tristezas".

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