O Papa Francisco na sua homilia, por ocasião da celebração do 7.º Dia Mundial dos Pobres, acontecida no pretérito dia 19 de novembro, disse-nos que “não podemos viver ... com medo, esconder debaixo da terra o tesouro que recebemos, pensando só em nós mesmos, sem nos apaixonarmos por nada, além das nossas comodidades e interesses, sem nos comprometermos”.
Nestes últimos tempos, em que tanto se tem dito e escrito sobre a Operação Influencer, não resisto em partilhar com o leitor a minha reflexão sobre este novo tempo.
Todos temos as nossas fragilidades, mas há mínimos de ética, de integridade, de saber escutar e de definir políticas adequadas em prol, sobretudo, dos mais frágeis, que se exigem aos intervenientes políticos, aos governantes nacionais, e que não têm sido cumpridos.
Tivemos uma pandemia, depois veio a guerra, seguindo-se um considerável aumento do custo de vida com o aumento das desigualdades. Em 2022 a taxa de risco de pobreza voltou a subir, registando-se um aumento de 0,6 pontos percentuais, relativamente ao ano anterior, e acentuou-se o risco de pobreza infantil.
Os portugueses vão acreditando cada vez menos nos políticos e os casos de corrupção que vão aparecendo contribuem para esse descrédito. As instituições vão perdendo a sua credibilidade e o que se passa em Portugal também vai acontecendo por alguns países da Europa.
Assim, vão surgindo, e sendo aceites, as ideias de André Ventura, Wilders, Orbán, Robert Frio, Le Pen e Salvini. Por que motivo? Pelo dito descrédito nas políticas da atualidade, pelo descrédito nos políticos, nas instituições, pelo facto de aqueles líderes conseguirem falar para um eleitorado que tem sido desconsiderado, maltratado e que não se revê nesta vã forma de fazer política.
Entretanto, soubemos que o chefe de gabinete do senhor primeiro-ministro português guardou no seu gabinete, em livros e envelopes, espalhados por várias estantes, o equivalente a 75.800 euros, quando bem sabia que tal quantia deveria ser declarada e colocada em circulação, sob pena da prática de um ilícito criminal de ocultação intencional de património, previsto no artigo 18.º-A da Lei 52/2019, de 31 de julho.
O senhor primeiro-ministro demitiu-se, e bem, não por virtude de um parágrafo escrito no comunicado do Ministério Público, mas pelo facto de ter tido um laivo de discernimento ético em que percebeu que não podia continuar a governar um país quando a pessoa que escolheu para ser o seu braço-direito fez o que não é legalmente admissível a qualquer cidadão ou a qualquer empresa.
Efetivamente, tal como à mulher de César, não basta sê-lo, há que parecê-lo, e se o senhor primeiro-ministro não se demitisse ficaria para todo o sempre associado àquele contexto que em nada dignificaria o nosso país, nem honraria os milhares de portugueses que anualmente declaram os seus rendimentos, pagam os seus impostos e tentam em cada dia, com sacrifício, pagar as suas despesas, sustentar as suas famílias.
Por tudo isto tenho muita dificuldade em lobrigar o entendimento do anterior Presidente da Assembleia da República (Ferro Rodrigues) quando referiu, no pretérito dia 18 de novembro, que “exige-se que os mesmos que te levaram à demissão, com toda a urgência, te libertem de quaisquer responsabilidades que não tens.”
Tenho para mim que cada um de nós é responsável pelas escolhas que faz e quando um dos membros que escolhemos falha, então, todos falhamos, especialmente quem fez a escolha do membro que falhou.
Urge deixar de pensar nas comodidades e nos interesses em manter o poder a qualquer custo. Antes se exige compromisso e paixão por concretizar o bem comum, com transparência, com crescimento económico e social, pugnando por atenuar as desigualdades, dignificando, assim, a Justiça, a Saúde, a Educação, um país, as suas gentes!