TRABALHADORES INCANSÁVEIS é assim que podemos descrever os nossos governantes, após conhecermos os termos da investigação “ab initio”. O número de contratos públicos que estão a ser investigados por corrupção é tão elevado que fiquei com os olhos em bico, só de ler o despacho do Ministério Público. É razão para questionar - Será que os secretários do governo, tinham tempo para governar? Não deviam dormir de noite só para negociar contratos públicos.
A REDUÇÃO DO JACKPOT foi a maior “burla” que a oposição foi alvo e a grande jogada de mestre do PSD/Madeira. Não que esteja com pena da oposição que hoje temos representada no Parlamento Regional. Contudo, não deixa de ser irónico que o PSD/Madeira tenha conseguido tirar recursos e meios aos partidos, por iniciativa da própria oposição e, ao mesmo tempo, pela porta do cavalo, tenha reforçado o seu próprio financiamento partidário.
FRAUDE ELEITORAL. A operação “ab initio” dá-nos a conhecer a alegada rede tentacular que foi montada para desviar dinheiro público, para financiamento das campanhas eleitorais do PSD/Madeira. Não é inédito, nem novidade para ninguém. Em Portugal, tornou-se prática comum para os partidos do arco do poder e para as câmaras municipais. Na Madeira, ganha maior dimensão pois não há alternância política. O PSD/Madeira tem fundos inesgotáveis para concorrer às eleições, desvirtuando por completo os atos eleitorais -, não admira que estejam há quase 50 anos no poder.
VÍTIMAS E CARRASCOS. Curiosamente, apesar das suspeitas de corrupção e fraude eleitoral, a maior parte da oposição está calada, porque se não fazem igual, queriam fazer. Não esqueço que na Operação Zarco, a Polícia Judiciária apreendeu, nas buscas realizadas na Ribeira Brava, um papel manuscrito com valores numerários para o financiamento de vários partidos políticos na Madeira. O sistema de financiamento partidário tem de ser alterado para evitar situações destas. Os políticos acabam vítimas e carrascos de um sistema que é propício e convidativo a este tipo de práticas. Pois, sem elas, dificilmente se ganham eleições. Há um preço elevado que se paga pela longevidade no poder, até pelos que beneficiam dela, que acabaram detidos e levados algemados a tribunal.
”SE A MINHA AVÓ TIVESSE RODAS, ERA UM AUTOCARRO”. Bem podemos esperar sentados por uma moção de censura ao governo pela operação “ab initio”. Os partidos vão empapelando e arranjando desculpas. Ora dizem que não têm o número de deputados necessários ou que, apesar de terem o documento escrito e preparado, não querem criar instabilidade política. Há sempre um “se” que os impede. Só não revelam que fizeram as contas: é melhor fechar os olhos ao suposto financiamento ilegal partidário, do que mandar o salário de deputado às urtigas.
SOMOS UM POVO SUPERIOR e se alguém tem dúvidas do nosso avanço político e civilizacional, basta recordar alguns episódios recentes. Tivemos a festa de casamento no Fanal, em plena reserva natural da Laurissilva e o épico debate dos candidatos à liderança do CHEGA, na RTP-Madeira. Entre tantos acontecimentos memoráveis, fica difícil escolher qual o melhor. Para compor o ramalhete, talvez seja bom concluir, com menção às fotos do presidente da Câmara da Calheta a ser recebido, euforicamente, pelos funcionários da autarquia, após ter sido detido por suspeitas de corrupção. Foi um verão, verdadeiramente, emocionante. Está visto que: se não nascêssemos, tínhamos de ser inventados.