Para responder a esta questão, socorro-me de Manfred B. Steger, Professor de Sociologia da Universidade do Hawai’i-Manoa. No livro "Globalization - A Very Short Introduction" da Oxford University Press, o autor propõe começar por três conceitos chave: globalidade, imaginário global e globalização.
A globalidade pode definir-se como uma condição social caracterizada pelas fortes interações e fluxos económicos, políticos, culturais e ambientais ao nível global, que desafiam fronteiras e limites. É um processo em curso, mas não é um fim em si mesmo, não será o fim da história nem tem um caminho único, é compatível com visões individualistas, liberais, comunitárias e cooperativas.
O imaginário global, refere-se à crescente tomada de consciência do Mundo como um todo. No entanto, esta consciencialização não apaga nem se substitui a noções de identidade baseadas em nacionalidade, comunidade ou local de pertença, pese embora a perda de importância e de poder do conceito quase romântico de Estado-Nação dos séculos XIX e XX. Há apenas uma difusão de limites e uma maior noção de pertença a vários níveis, mesmo supranacionais.
Finalmente a globalização aparece como um conceito espacial, uma matriz onde se operam estes processos sociais (concretos e abstratos), mas ao mesmo tempo traduz uma ideia de dinamismo. Por vezes mais rápido, por outras vezes mais lento, expandindo-se para todo o mundo ou reformulando-se e ganhando novas interpretações nacionais, regionais e locais. Por este motivo há quem proponha que esta dinâmica, bidirecional, entre global e local é uma "glocalização" mais do que apenas globalização.
Com base em conceitos tão abstratos e abertos podemos definir várias formas de globalização. Há uma globalização personificada na deslocação de pessoas, a começar pelas migrações, que são uma constante humana há pelo menos 12 000 anos. Mas também devemos incluir as deslocações mais curtas, das viagens de negócios às de turismo, dos trabalhadores sazonais ou temporários aos projetos de intercâmbio de estudantes, mas também dos refugiados. Há uma globalização impessoal, de ideias, documentos, imagens, ou dinheiro eletrónico. Há uma globalização de objetos, matérias-primas e mercadorias como há também uma globalização organizacional de corporações, organizações políticas ou não-governamentais, internacionais, transnacionais, supranacionais.
Em todas estas formas temos observamos a criação de redes e multiplicação de interações sociais, a intensificação da sociedade em rede de que falava Manuel Castels, e uma tomada de consciência da humanidade como um todo de que fazemos parte para além das nossas famílias, comunidades, nações ou clubes desportivos.
A pandemia pode ser usada para perceber melhor estes conceitos da globalização, a começar pela forma como um vírus que passa de pessoa para pessoa chegou tão rapidamente a todo o Mundo, mesmo às comunidades mais remotas e isoladas.
Nunca, como agora vimos a troca de informação, de investigação e produção científica que levou a que em menos de um ano tivéssemos várias vacinas semelhantes a serem produzidas e aplicadas um pouco por todo o planeta. Por outro lado, como disse o Secretário-Geral a ONU vimos o acentuar de desigualdades entre países, que faz com que 5% dos países tenham aplicado 75% das vacinas antes de 65% dos países terem recebido a primeira dose (embora esta chamada de atenção, global, seja positiva).
Para o melhor e para o pior, a humanidade está muito mais próxima do que às vezes julgamos. Não há soluções mágicas nacionais, regionais ou locais, fechadas em si mesmas. Saibamos, por isso, seguir o exemplo da comunidade científica internacional e aproveitar o melhor da globalização para corrigir o que ainda há de pior em cada local.