MADEIRA Meteorologia

Artigo de Opinião

17/04/2023 07:00

Sobre isto, e antes de mais considerações, duas notas: a primeira é que não se trata verdadeiramente de uma isenção de IVA, onde o imposto não é devido e não é cobrado, mas sim de uma taxa zero de IVA, onde o IVA é aplicado, mas a taxa é definida em zero por cento, o que significa que o imposto é devido, mas não é cobrado. É o que resulta da leitura do artigo 1º do referido diploma. Ao mesmo tempo, os comerciantes terão o direito de deduzir o IVA pago nas suas compras relacionadas com a venda desses produtos alimentares. Ou seja, mesmo não cobrando o IVA ao consumidor final, têm o direito de o deduzir nas suas despesas e abater na sua contabilidade fiscal. É o que resulta do n.º 2 do artigo 2º da Lei.

A segunda questão, desde logo a mais óbvia, é que, sendo verdade que a isenção da cobrança do IVA nos produtos alimentares essenciais pode implicar uma redução do preço desses produtos para os consumidores, mas isso não significa que haverá uma diminuição automática e garantida dos preços.

De facto, a relação entre a isenção da cobrança de IVA e os preços dos alimentos é complexa e pode variar dependendo de diversos fatores, incluindo o mercado, a concorrência, os custos de produção, a procura dos consumidores, a sua margem de lucro, e de muitas outras razões. Além disso, as cadeias de fornecimento de alimentos podem ser longas e envolver múltiplos intermediários, o que pode afetar a forma como a redução do IVA é passada aos preços finais. Em teoria, a isenção de IVA nos produtos alimentares essenciais pode levar a uma redução dos preços para os consumidores, uma vez que os comerciantes podem optar por refletir a baixa do imposto diretamente aos preços de venda. No entanto, na prática, como outros fatores também podem influenciar os preços, nada garante que a partir de hoje os preços automaticamente baixem.

Pelo que, temos que perguntar: qual a eficácia desta nova medida do Governo da República? Temo que seja igual à taxa do IVA. Zero.

Senão vejamos. O que torna uma obrigação legal… obrigatória?

Uma obrigação legal torna-se obrigatória quando é imposta por uma lei ou regulamento numa jurisdição específica e é vinculante para as partes envolvidas. Em geral, uma obrigação legal é estabelecida quando há uma norma que determina que uma pessoa ou entidade deve cumprir certas ações ou abster-se de certos comportamentos. E condição necessária para que seja cumprida é a sua aplicação coerciva. Ou seja, uma obrigação legal pode ser aplicada coercivamente pelas autoridades competentes, que têm o poder de impor o cumprimento da obrigação e tomar medidas corretivas em caso de violação. Isso pode incluir sanções, multas, penalidades, ações judiciais ou outras medidas que visam a impor o cumprimento da norma.

Ora, nos casos em que uma norma é estabelecida como "obrigatória", mas sem que exista um mecanismo específico para fiscalizar ou sancionar o não cumprimento, a aplicação da norma irá depender de fatores como a boa-fé das partes envolvidas, a autorregulação do setor ou a pressão social e moral para cumprir a norma. Ou seja, por outras palavras, irá depender da vontade das pessoas em a cumprir.

Pois bem, esse é o caso desta Lei n.º 17/2023. Não prevê qualquer obrigatoriedade de baixar preços nos produtos em causa, nem prevê qualquer mecanismo sancionatório para os eventuais prevaricadores, no sentido de não ajustarem os preços à não cobrança do IVA. Exemplo, se um operador económico manter o preço do leite igual ao de ontem, mesmo deixando de cobrar o valor do IVA hoje, qual a sua penalização? Igual à do imposto em causa: ZERO!

Como em Portugal a fixação de preços obedece às regras do mercado, com base na oferta e na procura, sujeita às regras aplicáveis, e não existindo nenhum mecanismo especial neste novo diploma que obrigue a baixar preços (a não ser o isentar a cobrança do IVA de uma lista de produtos), a verdade é que esta resposta do Governo da República é verdadeiramente uma mão cheia de nada. Quis-se vender este mecanismo como a solução para algo que o Governo não tem mão e vendeu-se uma ilusão às pessoas. No final, o problema continua por resolver.

Agora, como antes, continuará a mandar as regras do mercado. Dificilmente veremos grandes efeitos reais nos preços dos alimentos, nomeadamente na sua descida, desde logo porque não há qualquer obrigatoriedade de baixar preços, nem há qualquer sanção ou penalidade por quaisquer eventuais cumprimentos. O tal "acordo de cavalheiros" que o Primeiro-ministro tanto falou, vale tanto como a sua palavra para resolver os problemas do nosso país. Zero. Como o IVA.

Luís Miguel Rosa escreve
à segunda-feira, de 2 em 2 semanas

OPINIÃO EM DESTAQUE

88.8 RJM Rádio Jornal da Madeira RÁDIO 88.8 RJM MADEIRA

Ligue-se às Redes RJM 88.8FM

Emissão Online

Em direto

Ouvir Agora
INQUÉRITO / SONDAGEM

Considera que o Orçamento Regional deveria ajudar a pagar as despesas da Universidade da Madeira?

Enviar Resultados
RJM PODCASTS

Mais Lidas

10:26

Um carro funerário despistou-se na manhã desta segunda-feira, pouco depois das 10h00, na via rápida, no Caniço, no sentido Santa Cruz – Funchal.

O acidente...

15:20

Um acidente insólito provocou esta manhã grande alvoroço junto à Associação de Paralisia Cerebral da Madeira, em São Martinho, no Funchal.

Segundo testemunhas,...

22:07

Na lista dos 124 restaurantes recomendados pelo Guia Repsol, encontram-se cinco madeirenses: Adega do Pomar, na Camacha, O Cesto, também na Camacha, As...

12:11

Uma viatura de transporte de gruas, imobilizada devido a um problema, está a dificultar a circulação automóvel na Via Expresso, no Lugar de Baixo, concelho...

8:35

A Capitania do Porto do Funchal emitiu um aviso de agitação marítima forte, com base na informação do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA),...

12:32

O secretário regional de Saúde e Proteção Civil, Pedro Ramos, prepara-se para encerrar um ciclo de nove anos à frente da tutela, deixando em aberto o seu...

16:09

Um trabalhador sofreu ferimentos considerados graves esta segunda-feira, na sequência de uma queda numa obra em Machico. A vítima caiu de uma altura estimada...

• PUB
9:50

O número de casas disponíveis para arrendamento de curta duração em Portugal atingiu um máximo no final de 2024, segundo dados do idealista/data. O Funchal...

11:59

Um jovem de 17 anos foi hospitalizado esta madrugada após causar vários distúrbios num bar, no Funchal, alegadamente devido ao consumo de estupefacientes...

12:38

O Porto do Funchal recebe hoje três navios de cruzeiro, o Britannia que está a percorrer o corredor atlântico, o Viking Sea que está em viagem transatlântica...

Últimas

21:32

A Autoridade Marítima Nacional (AMN) registou hoje 45 ocorrências no mar, entre as quais um jovem desaparecido ao final da tarde numa praia da Costa da...

21:07

Os conservadores e os sociais-democratas chegaram hoje a acordo para formar um governo de coligação na Alemanha, seis semanas após as eleições realizadas...

21:05

Um homem morreu hoje na sequência de um assalto a um restaurante em Mortágua, distrito de Viseu, adiantou à Lusa fonte da GNR.

Fonte da GNR de Viseu confirmou...

20:14

O presidente e o tesoureiro da Associação de Estudantes de Engenharia do Porto demitiram-se hoje e a direção pediu desculpa às alunas alegadamente fotografadas...

20:04

O México registou hoje a primeira morte pelo vírus da gripe das aves, segundo as autoridades regionais de saúde.

“Ao início da manhã, recebemos a confirmação...

19:49

O CEO da empresa automóvel Tesla, Elon Musk, insultou hoje o consultor de Comércio de Donald Trump, Peter Navarro, chamando-lhe “idiota” e “mais burro...

19:38

Quase 80% dos doentes oncológicos ultrapassaram os prazos legais para a realização da primeira consulta no segundo semestre de 2024, revelam hoje dados...

• PUB
19:20

A capitania do Porto do Funchal cancelou hoje o aviso de agitação marítima forte emitido há dois dias para o arquipélago da Madeira e que estava em vigor...

19:10

As autoridades portuguesas estimam em 1,6 milhões o número de estrangeiros residentes em Portugal em 2024, de acordo com o relatório intercalar da recuperação...

19:04

O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, admitiu hoje uma opção militar contra o Irão caso se arrastem as negociações com os Estados Unidos,...