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Artigo de Opinião

29/03/2022 08:00

A ex-deputada do PAN, que ao deixar de ser deputada com o fim desta legislatura, aceitou ser assessora parlamentar do Chega. Isto de defender tudo, para logo a seguir defender o seu contrário, tem o seu quê de hilariante.

Não que nada disto seja inédito, o que não faltam são casos destes, a política na sua forma mais mundana, tornou-se uma fonte de emprego, sobretudo num país pobre e de cultura latina como nosso. Há uma espécie de personagens na política que são como os macacos, saltam de galho em galho com uma facilidade impressionante.

Estranhamos, porque neste caso concreto, a ex-deputada do PAN "emigrou" para outro partido e mais que isso para um partido com uma ideologia completamente antagónica. Nos partidos emergentes é assim, quando existem dissidências ou derrotas, não têm outra alternativa senão procurar cargos nos outros partidos. "Mudar de poio" é praticamente obrigatório, para este género de mercenários da política. Desde que paguem, esquerda ou direita, touradas ou direitos dos animais é tudo relativo.

O comum é "migrar" dentro da mesma família política. A dança das cadeiras é mais usual dentro dos grandes partidos como o PS e o PSD, uma vez que têm condições de acolher noutros cargos, as personagens renegadas das listas, ou os candidatos derrotados das eleições. Vejamos o caso de Medina, ex-presidente da Câmara de Lisboa que agora vai para ministro das Finanças, e o caso de Paulo Cafôfo, o presidente demissionário do PS/Madeira, nomeado, Secretário de Estado das Comunidades. Isto, só são alguns exemplos.

Neste caso, têm a sorte de não precisarem trair os seus ideais partidários para poderem continuar a pairar no mundo da política. Nem quero imaginar o que seria na Madeira, caso o PSD, após 46 anos de poder, ininterrupto, perdesse as eleições, haveriam "Cristinas Rodrigues" em catadupa.

Não gosto de ser fatalista, mas por norma, na política vingam os despromovidos de carácter e ética republicana. Porque são os que estão dispostos a tudo para sobreviver politicamente.

Já viram aquele anúncio televisivo da famosa cadeia de supermercados?! "Também gostava de ter um tacho? No Lidl, ganhe algum sem fazer nenhum". Bem não podia ser mais oportuno.

Longe vão os tempos em Portugal em que se lutava por ideal ao ponto de arriscar ir preso durante anos e anos ou até mesmo morrer para combater o fascismo. Durante o Estado Novo (1933-1974) foram encarcerados milhares de portugueses e muitos perderam a vida.

Hoje em dia, são muito poucos os dispostos a arriscar pelo que quer seja, reparem no exemplo da destemida ex-candidata presidencial, Ana Gomes, que após ter vindo a desmascarar uma série de negócios obscuros de altas entidades nacionais é agora confrontada com manchetes na imprensa como se de um crime de lesa pátria se tratasse só porque, aparentemente, fez um anexo ilegal numa casa que vendeu recentemente.

Quem tinha razão era Rui Barbosa (1849-1923) um político, e jurista brasileiro que escreveu sobre a vergonha em ser honesto, dizia: "De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto...".

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