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Artigo de Opinião

Psiquiatra

14/12/2022 08:00

Estas novas drogas são a estratégia de mercado perfeita - baratas, falsa sensação de segurança e ficam mais agarrados do que às antigas. Existe melhor negócio? Há sempre novas pessoas a começarem a consumir e é mais difícil largar. Resultado? A população zombie aumenta todos os dias sem parar. E o que vamos fazer? Fechá-los num estabelecimento? Empurrá-los para algum precipício? Todos os seres vivos defendem-se quando são ameaçados.

Se encurralarmos os zombies sem os ajudarmos a transformarem-se e a curarem-se, o que irão eles fazer? Mais planos e artimanhas para levarem a sua doença mais além. O caminho é longo e complexo para a resolução deste problema. Temos de contar com técnicos do terreno, falar com os doentes e ouvir as suas necessidades, mesmo que não gostemos das soluções.

Um dos fatores que assumem ter sido um dos motivos para consumirem as sintéticas, foi a diferença de preço da droga antiga. Essa teria um valor na Madeira superior a 3x a dos outros locais e por isso, sentiam-se obrigados a consumirem as sintéticas.

A necessidade de consumir algo para desligar o cérebro não vai desaparecer. Não vamos conseguir o milagre de livrar as pessoas das adições. Infelizmente o mesmo sistema cerebral que serve para aprendermos, é o mesmo sistema que nos dá prazer. E depois de aprendermos a ter prazer fácil, nunca mais somos os mesmos. Esta é a razão para tantas pessoas dizerem que não se deixa de ser dependente. Só se fica em abstinência. Se a pessoa voltar a consumir, volta a ter os mesmos problemas. Ninguém com problema de adição, pode voltar a utilizar aquilo a que se tornou adito, sem ficar adito novamente.

Se queremos realmente fazer a diferença, temos de reunirmo-nos e juntarmo-nos a quem nos pode ajudar a resolver o problema e não fecharmos a solução, ao que a elite social gostaria que acontecesse. Madeira e Açores são vítimas graves destas substâncias. Qual o motivo para não trabalharmos em conjunto? Apesar de já termos este problema há pelo menos 14 anos, não existem tratamentos, soluções fáceis ou evidentes. Temos de juntar os profissionais, doentes e pessoas de várias áreas da sociedade para encontrarmos soluções "fora da caixa". Vai ser necessário utilizarmos drogas antigas para ajudar a encontrar a solução? Fizemos com a metadona, faz-se agora com a depressão resistente, com a perturbação de stress pós-traumática, por que não voltar a procurar?

Implementar todas as soluções que já existem noutras regiões do país deve ser uma prioridade. Alargar as equipas de tratamento. Levá-las para os locais necessários. O covid mostrou que é possível aumentar as equipas quando há uma emergência. Não é a situação atual uma emergência? Quantos mais filhos, filhas, pais e mães vamos perder até considerarmos que já pagámos um preço demasiado caro?

Acredito que em conjunto com os Açores, conseguiremos encontrar um caminho seguro, longe de soluções autoritárias, pelo bem da democracia e da saúde.

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