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Fenómeno do arrependimento e burnout parental atinge 5% das mulheres portuguesas

Data de publicação
19 Janeiro 2024
11:52

Os desafios da parentalidade - um conceito que abrange núcleos familiares de diferentes matrizes e diversidade – foram alvo de debate nas “I Jornadas de Estudos e Intervenção com a Família – Da compreensão à Intervenção”, organizadas pela Universidade da Madeira e a Secretaria Regional de Educação, Ciência e Tecnologia.

Uma das oradoras do evento, docente da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação, da Universidade de Coimbra, e terapeuta familiar, explorou o tema ‘Ser família(s) na sociedade atual: os desafios para a parentalidade”, com as mudanças ocorridas no contexto das famílias, “as relações afetivas são extraordinariamente complexas e a parentalidade tem de se organizar dentro desta complexidade”.

Filomena Gaspar entende que atualmente, “dentro da família, há casais completamente diferentes. Há casais em que a partilha das tarefas é simétrica, mas na maioria das famílias portuguesas, perto de 72%, continua a ser a mulher quem mais se dedica às tarefas domésticas e de cuidar das crianças, apesar das mulheres terem carreiras desafiantes”.

Essa realidade tem levado a um novo problema. Filomena Gaspar referiu que “muitas vezes, as mulheres que cresceram a pensar que ia haver igualdade, e não há, vivam a desilusão da maternidade”. A investigadora continuou afirmando que “nessa desilusão, cresce o fenómeno do arrependimento. Temos em Portugal, cinco por cento de mulheres que, se pudessem voltar atrás, não tinham filhos”. Há países, como a Polónia, que esse número sobre para 12%, revelou ainda, esclarecendo que neste caso, a percentagem engloba também os homens.

Além do arrependimento parental, há ainda o ‘burnout parental, ou seja, “o stress relacionado com a função parental”, em que “podemos adoecer por sermos pais e mãe. Quando esta função é extraordinariamente exigente, as pessoas podem entrar em estado de exaustão, distanciamento emocional da criança, não se identificarem como pais e mães”. A docente entende que este é um fenómeno que, estando nos 5% em Portugal “é um valor que tem de começar a nos alertar”.

Como atuar perante este problema? Filomena Gaspar respondeu é preciso “atuar ao nível das crenças” e educar a sociedade para a importância de existir divisão de tarefas do cuidar das crianças e da família. “Temos de ter cada vez mais masculinidades sensíveis e protetoras, com os homens a assumirem responsabilidades afetivas, desconstruir o mito de que a criança cria uma relação especial com a mãe. Isso não é verdade. A criança cria uma relação preferencial com os adultos cuidadores principais, que podem ser um homem e uma mulher, dois homens ou duas mulheres, um avô ou uma avó”, por exemplo. “A criança precisa de figuras cuidadoras de referência”. É preciso também “ajudar os pais a lidar com o stress, a cuidarem mais deles e, claramente, ajudar a geração mais novas, crianças e adolescentes, para a parentalidade.

De salientar que as Jornadas decorreram no Colégio dos Jesuítas e teve como principais objetivos promover o conhecimento mútuo e facilitar uma linguagem comum entre diferentes setores (educação, saúde e segurança social) e áreas disciplinares, tendo em vista uma melhor compreensão e uma intervenção de melhor qualidade em prol das famílias, das crianças e dos jovens.

Maria João Beja, docente da Universidade da Madeira e membro da comissão organizadora, explicou que as jornadas surgem como “um espaço de reflexão e de discussão de temáticas e problemáticas que nos ocupam enquanto sociedade, nomeadamente na área da Saúde, Educação e intervenção social”, numa visão em torno dos contextos de vida dos indivíduos e das relações significativas para a sua vida.

“Temos estado a pensar e a abordar as questões e a definir práticas e políticas tendo por objetivo o indivíduo, como se este nascesse só e vivesse só, sem contemplar as relações fundamentais de vida quer as relações que os técnicos estabelecem entre si e com eles”.

Assim, a responsável salientou que é importante haver articulação e comunicação entre os diversos intervenientes, na resposta às problemáticas das crianças e jovens, como sejam exemplos de educação, de desenvolvimento, consumos, parentalidade, impacto do divórcio na criança/jovem, entre outras matérias. O que significa ainda que a abordagem não pode ser apenas no indivíduo mas num contexto mais amplo, de contexto familiar e social.

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