A líder da extrema-direita francesa defendeu hoje a moção de censura contra o executivo de Michel Barnier, para acabar com “um Governo de aparências”, enquanto a França Insubmissa (esquerda radical) garantiu que “a maioria do povo” apoia a iniciativa.
Marine Le Pen anunciou, durante o debate no parlamento, que votará favoravelmente a moção de censura, para pôr fim a “um Governo de aparências” que quis “prolongar as políticas” do Presidente Emmanuel Macron, e que “por intransigência, dogmatismo e sectarismo impediu a mínima concessão” à oposição.
O deputado do partido da França Insubmissa (LFI), Éric Coquerel, garantiu que “a maioria do povo” apoia a moção de censura que será hoje votada contra o Governo, que qualificou de “ilegítimo”.
Coquerel também criticou Barnier por tentar evitar a sua queda ao alinhar-se com a extrema-direita de Marine Le Pen e os seus valores.
Boris Vallaud, líder do Partido Socialista (PS) francês, aliado às outras forças de esquerda na coligação Nova Frente Popular (NFP), concordou com Coquerel.
“Esta moção de censura é um apelo a um reforço moral”, sublinhou Vallaud, reiterando o apoio do PS à moção de censura apresentada pelo LFI.
O líder socialista sublinhou, de igual modo, que Barnier falhou e que “em momento algum dialogou com a oposição de esquerda”, como fez com a extrema-direita de Le Pen.
Apesar da posição oficial de Vallaud, a eventual falta de apoio dos deputados socialistas a esta moção de censura é uma das escassas hipóteses de sobrevivência do Governo de Barnier.
Nos últimos dias, vários membros do executivo tentaram apelar a possíveis deputados dissidentes entre os socialistas, pedindo “responsabilidade” para não mergulharem a França num contexto de caos e desencadearem uma potencial crise económica.
A moção vai avançar devido a uma frente partilhada entre a esquerda radical e a extrema-direita, que ultrapassam a maioria absoluta necessária, algo com que a própria Le Pen disse não estar particularmente “feliz”, mas a que, na sua opinião, é “obrigada” pelas “instituições”.
Se o executivo cair, agrava-se a crise política criada pela dissolução da Assembleia Nacional pelo Presidente Emmanuel Macron, em junho, na sequência da vitória da extrema-direita nas eleições europeias.
No mês seguinte, as eleições legislativas deram origem a uma Assembleia Nacional muito fragmentada e Barnier só tomou posse como primeiro-ministro em 05 de setembro, sucedendo a Gabriel Attal, após 60 dias de impasse.
Com o atual cenário, o país corre também o risco de uma crise financeira ligada ao nível de confiança dos mercados na capacidade das autoridades públicas de contrair empréstimos a taxas baixas.