Cerca de 20.000 emigrantes portugueses regressam anualmente a Portugal, na sua maioria com menos de 40 anos, um retorno que o coordenador científico do Observatório da Emigração considera que deveria ser mais apoiado.
Rui Pena Pires, um dos autores do Atlas da Emigração Portuguesa, que será apresentado na próxima terça-feira, disse em entrevista à agência Lusa que Portugal sempre teve cidadãos a emigrar e emigrantes a regressar a Portugal.
“Se estão a sair 60.000 e regressam 20.000 [por ano] é porque um terço está a voltar, o que é um número mesmo muito significativo”, afirmou.
Curiosamente, sublinhou, “e pelo menos na emigração dos últimos anos, os que regressam são sobretudo de idade jovem”, com menos de 40 anos.
A estes, junta-se o regresso de portugueses emigrados em países como a Suíça – o segundo com maior número de emigrantes portugueses, a seguir à França – e que entretanto se reformaram e não obtiveram uma reforma que lhes permita continuar.
Para Rui Pena Pires, “deveria haver uma reorientação das políticas de Estado em termos de regresso”.
“Acho que não é tão útil ter incentivos ao regresso. Não é por incentivos que as pessoas regressam e não é por falta deles que deixam de regressar”, indicou.
E alertou para as dificuldades que os emigrantes enfrentam em Portugal quando regressam ao fim de estadias prolongadas.
“Regressam a uma nova emigração. As dificuldades de integração que tiveram no país de onde estão a regressar são as mesmas. Já não conhecem nada, já não sabem como as coisas funcionam, os impostos que têm de pagar; enfrentam muitas dificuldades”, prosseguiu.
Para o sociólogo e especialista em matéria de emigração, “numa política de apoio ao retorno, o que seria essencial é uma política de apoio aos emigrantes que regressam, apoio burocrático e administrativo”.
“A maioria dos emigrantes que regressam nem sabe os direitos que têm, os estatutos especiais que há para os emigrantes. Há uns gabinetes de apoio aos emigrantes que podiam fazer essa tarefa, podiam ser gabinetes de aconselhamento dos emigrantes e de desbloqueamento de dificuldades”, defendeu.
E concluiu: “É preciso muito mais apoio aí do que propriamente incentivos para regressar”.
De acordo com o Atlas da Emigração Portuguesa, entre 2001 e 2020 saíram anualmente de Portugal, em média, mais de 75.000 pessoas. Nesse período, mais de 1,5 milhões de portugueses optaram por viver fora de Portugal, ou seja, perto de 15% da população.
Em 2021, Portugal recebeu mais de 3,6 mil milhões de euros de remessas de emigrantes, um valor superior às transferências europeias para Portugal e quatro vezes mais do que as remessas enviadas para o estrangeiro pelos imigrantes.