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Artigo de Opinião

Antropóloga / Investigadora

25/04/2022 08:00

48 anos depois, com as diversas histórias dos heróis de abril que conhecemos sob o ideal revolucionário, será que destapa um retrato mais humanizado? Ou a História teima em congelar?

Nos diversos livros, filmes, séries e documentários dos dias de hoje, deparamos com os momentos mais dramáticos daquele dia, o 25 de abril de 1974: o capitão Salgueiro Maia, a liderar as forças revolucionárias pela cidade, com um canhão apontado à cabeça. Num dos bolsos das calças, possuía uma granada, no outro um charuto. Se corresse mal, tudo ia pelo ar. Por outro lado, se corresse bem, acenderia o charuto para comemorar. Nunca foi ao engano e preparava-se para todos os cenários possíveis!

Nos dias de hoje, poucos são os jovens que têm noção deste marco na nossa História. Para muitos, o 25 de abril é pouco mais que um feriado. Sim, com um significado histórico, mas que já passou. Para outros, foi um momento gratificante, emocionante, glorioso e que deve ser lembrado todos os dias!

Quase cinco décadas depois, olhamos e vemos como muitas coisas mudaram desde então.

Antes: só havia um partido político, a Ação Nacional Popular, que apoiava o governo; não havia eleições livres; as mulheres eram dependentes dos seus maridos; existia a PIDE, com informadores em toda a parte que escutavam as conversas; não existia liberdade de expressão, sempre que existiam opiniões contrárias ao Governo, os indivíduos eram presos; cada patrão pagava o que pretendia aos seus trabalhadores; as notícias só podiam sair nos jornais após serem revistas e autorizadas pelos Serviços de Censura; o serviço militar era uma obrigação;…

Hoje, tudo é diferente: passou a existir diversos partidos políticos; cada cidadão vota no partido que pretende; existe liberdade e democracia quanto ao voto; mulheres e homens têm os mesmos direitos; não existe a PIDE havendo liberdade de opinião e de expressão; há um salário mínimo nacional; a imprensa é livre sendo permitido a expressão de ideias; o serviço militar deixou de ser obrigatório.

Hoje é difícil imaginar como era Portugal antes do 25 de Abril de 1974, principalmente para os mais jovens. Mas, se pensarmos que, por exemplo, que as escolas tinham salas separadas para rapazes e raparigas, que muitas músicas e livros eram proibidos, que alguns bens de consumo não se podiam importar, que não se podia sair livremente do país, que pairava sobre todos os jovens de 18 anos a guerra, será mais fácil compreender porque é que a "mudança" teve de acontecer e como é que Portugal se tornou diferente.

O 25 de abril de 1974 não só alcançou a democracia e a liberdade a Portugal, como também abriu a porta a avanços na sociedade, mais propriamente, na saúde, educação, liberdade e até a uma mudança de valores que alinharam o país que é hoje, muito diferente ao de há 48 anos.

Não vivi a ditadura, mas todos os dias oiço as histórias dos mais velhos. Considerando uma maneira de me aproximar daquilo que foram os tempos passados do século XX, faz-me desejar um mundo livre, justo e democrática. Sim, hoje vivemos num mundo melhor. No entanto, considero que todos os dias devemos lutar para que este dia não caia no esquecimento. Não, não vou mudar o mundo, mas se conseguir mudar o meu "quintal", dou sempre um novo ar à minha rua!

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