Na semana que findou, tive o imenso prazer de estar presente na apresentação de mais uma obra produzida pela Associação Xarabanda, “Instrumentos Musicais da Madeira”, de Rui Camacho e Jorge Torres.
A missão de pesquisar, divulgar e promover a história da música da Madeira da Associação não se resume a uma dimensão de tipo ‘arqueológico’, que procura os vestígios do que houve e do que foi (e essa vertente já de si seria importante), mas é uma verdadeira aposta no crescimento do interesse presente e uma garantia de que o futuro herde a riqueza de um passado feito de compositores, criadores de instrumentos e executantes. Um passado e um futuro em que a música erudita bebe dos cantares do povo e em que os cantares do povo se inspiram na música produzida nos salões.
E como foi bonito assistir à família Gaspar, da Lombada da Ponta do Sol, tocar as castanholas, num ritmo que encheu o Auditório da Universidade, no Colégio dos Jesuítas. Daí ser tão importante garantir a existência de um Museu da Música Tradicional, como foi lembrado por todos. Um Museu que não será um mero repositório, mas um lugar vivo, de estudo e de estímulo, que permita estabelecer ligações com os vários pontos do mundo com os quais as comunidades e a herança madeirense, nas suas várias dimensões, criaram um diálogo.
De facto, é quase mágico o percurso dos instrumentos musicais que daqui ganharam mundo. Tão mágico como o som das castanholas. Conservar a cultura e o património cultural tem de passar por colocar no centro do processo de decisão as comunidades locais, que se interessam pela conservação e divulgação das suas práticas artísticas e culturais e, ao mesmo tempo, contribuem para a economia sustentável de uma região. Isto porque se pode unir a importante valência da identidade cultural de um povo à possibilidade de desenvolver um turismo cultural que proporcione uma experiência pessoal e autêntica ao relacionar um lugar a uma cultura específica.
Esta é uma escolha que deve necessariamente envolver as populações, reservando um lugar especial aos mais jovens, já que se trata da sua herança e também da oportunidade de criar emprego e condições de fixação no território. Com a crescente popularidade de alguns destinos, o turismo de massa não controlado apresenta desafios que são complexos: o aumento da população e a lotação dos lugares turísticos, o aumento do ruído e dos níveis de poluição, os danos ao ambiente e a modificação do modo de vida dos habitantes.
O turismo cultural aposta justamente na colaboração com as comunidades, na preservação do património cultural, através de uma visão do turismo circular - de colaboração entre entidades, agentes e pessoas. Reconhecendo os desafios e a contínua evolução do setor turístico, a investigação e a inovação são fundamentais para criar estratégias sustentáveis que permitam à indústria prosperar e às populações um enriquecimento sem perda de identidades e valores.
É por isso que há cerca de uma década aumentou o empenho da União Europeia na requalificação e valorização do património cultural material e imaterial, aliando este objetivo ao reforço das oportunidades, de emprego e de vitalidade das comunidades. É, por isso, muito importante continuar a apoiar associações, como a Xarabanda, e incentivar a criação de espaços como o Museu da Música Tradicional. Ao mesmo tempo, pensar em valorizar a paisagem cultural, apostar na requalificação de edifícios de interesse, quintas e solares para que sejam - em vez de recordações que se procuram entre altos edifícios de betão - espaços museológicos, de pesquisa, de cultura. Só assim a alma do território será jovem e para todos.