É a que desenvolve as capacidades no cidadão de saber refletir sobre os problemas políticos da nação, sem delegar a sua resolução apenas na tradição e na autoridade, e de identificar quais as políticas que podem ser significativas para criar oportunidades e experiências em benefício de uma comunidade que é constituída por pessoas diversas.
A estudiosa acrescenta ainda que uma das capacidades mais importantes é a de conseguir colocar-se no lugar do outro e dos seus problemas: de pensar a infância, a adolescência, as relações familiares, a doença, a morte, tendo em conta não a estatística, mas as histórias pessoais de cada um. Isto é, de compreender o lugar dos sonhos e dos anseios.
É nesse sentido que importa, por isso, refletir sobre as condições que cada cidadão tem em termos de oportunidades e de como podemos reforçar a democracia "humana". Partamos, pois, da dimensão da formação e do direito constitucional que defende o acesso de todos à educação e que é basilar na construção do futuro. Uma dimensão que podemos chamar de "espírito de juventude" e que tem a ver com a capacidade de cada um de imaginar o amanhã. Um espírito que deve guiar todas as idades, mas que depende da forma como vemos e apoiamos a juventude de hoje e lhe damos possibilidades.
A preocupação com a juventude é muitas vezes apenas lugar de retórica, quando devia ser a área fulcral para os que pensam a democracia e em como vencer os desafios ligados não só à questão demográfica, mas também à riqueza e desenvolvimento sustentado do território. As informações que temos não são as mais positivas: grande parte do capital humano que a Região forma tem vindo, num crescendo, a abandonar o território, e o ciclo de pobreza-baixa formação-salários baixos ainda não foi quebrado.
Mário Centeno revelou que um estudo recentemente publicado pelo Banco de Portugal concluiu que a transmissão intergeracional da educação, reforçada pela interação com a situação financeira das famílias, tem implicações importantes nos percursos educativos e, consequentemente, na inclusão social e no potencial de crescimento económico. Isto é, se a formação e condição financeira dos pais forem baixas, menor o nível educativo alcançado pelos filhos e menor a sua capacidade económica. Só um em cada dez indivíduos nesta situação é capaz de quebrar o ciclo e completar o ensino superior. Ou seja, adquire instrumentos para fazer valer o seu capital humano e afastar-se da taxa de risco de pobreza, que sabemos ser muito maior na faixa dos que não têm educação superior.
E como construir a casa imaginada, da qual falou o Prof. Carlos Fiolhais este sábado no Funchal, a partir de uma anedota dos atores e realizadores irmãos Marx. "Estás a ver a casa no lado de lá do rio? Não? Eu sim, porque a imagino."? Fazendo uso da nossa autonomia para criar mais bolsas, oportunidades de internacionalização e formação, para captar os jovens que se licenciam ou fazem trabalho de ponta noutros países, considerando a cultura e a diferença do território como parte do projeto político, investindo em áreas que liguem o local ao global, como nas tecnologias, no clima, no mar, na saúde e no património. Caso contrário, a democracia perde o "humano", porque o trai, e as casas serão sempre as mesmas, sem a ambição das criadas pela nossa imaginação.