É a história dum homem, a manifestar sinais de demência, que recusa admitir ou aceitar.
«O Pai» é uma história de sonhos e fantasias, ou de vivências que se varreram, mas que a espaços se apresentam em moldes de realidade ou ficção.
Um Pai que recusa apoios, que rejeita quem lhe seja indicado em amparo e faz difícil a vida a quem lhe dá o seu melhor.
A casa transformada em passarela de cuidadoras que vão saindo de cena destroçadas, incapazes de lidar com indelicadezas ou acusações que serão apenas um transbordar da confusão que se vai instalando e dominando, ou a recusa em aceitar a disponibilidade do acompanhamento.
É a história duma filha que não desiste do Pai, e que insiste e persiste, em resiliência notável.
Um Pai trancado nos auscultadores que lhe dão asas, ou dificuldade da filha, bloqueada por uma realidade que se avoluma e impossibilita a relação?
É uma história sem a afetividade do toque, a magia dum abraço ou o calor dum carinho.
A não ser quando o Pai, já institucionalizado, cede à saudade da filha, agora distante, e aninhado no colo duma cuidadora, chora pelo aconchego da mãe.
A filha, assumindo com responsabilidade e ternura a coordenação dum lento e contínuo escorregar, esquecida de si, a desvalorizar confusões e amarguras de palavras e gestos, faz-me voltar atenções para o papel dos cuidadores Informais.
«CUIDADOR INFORMAL é a pessoa familiar ou terceiro, com laços de afetividade e proximidade que, fora do âmbito profissional ou formal e não remunerada, cuida de outra pessoa, preferencialmente no domicílio desta, por se encontrar numa situação de doença crónica, incapacidade, deficiência e/ou dependência total ou parcial, transitória ou definitiva, ou em situação de fragilidade e necessidade de cuidados, com falta de autonomia para a prática das atividades da vida quotidiana».
É a definição do DLR nº 5/2019/M, que seguindo e adaptando legislação nacional, lista objetivos, perfis, direitos e deveres dos cuidadores.
Dentre outros, é referenciado o direito a receber ajudas técnicas, como forma de aumentarem a qualidade dos cuidados prestados e a redução do desgaste físico na sua prestação.
O direito de serem apoiados na saúde, particularmente no foro psicológico; Até direito a apoio financeiro. Mas é tão burocrático e complexo o processo, tão irrisório o montante, que muitos preferem nem dar-se ao incómodo de o requerer. Aliás, nem isso, de longe, é o mais relevante.
Para desempenharem com eficácia a tarefa, sobretudo na demência, os cuidadores têm de estar conectados pela afetividade e proximidade à pessoa cuidada. A fragilidade progride, as capacidades vão-se apagando, as limitações avolumam-se paulatinamente.
Só pessoas bem formadas e preparadas, ligadas por afeto e responsabilidade, atingem a empatia que a situação exige.
E é com boa dose de paciente compreensão, com ternura e disponibilidade, que a missão se assume.
Não vejo que as instituições olhem os Cuidadores pelo seu merecimento, como interventores de cariz social, verdadeiros parceiros da saúde comunitária.
Será relevante aos Cuidadores dar-se a oportunidade de estarem próximos, em partilha, desabafo, oração, incentivo, relaxamento, seja o que for…
Que sempre tenham a ventura de usufruir de amizades solidárias, confortantes, encorajadoras.
Alguma compensação vai chegando no afago dum olhar…