Realmente, os problemas financeiros agravam em muito a vida diária das famílias, esgotando-as na busca de soluções para a sobrevivência com um mínimo de dignidade. Esta realidade na RAM, região com a maior taxa de risco de pobreza do nosso país, explicaria o aumento do número de adultos a necessitar do apoio da saúde mental. Explicaria igualmente que haja cada vez mais jovens com doenças do foro mental, com níveis de stress e angústia elevados, pois a vida em família acaba por envolvê-los nesse ambiente diário de angústia, de carências várias e de falta de esperança.
Se estes problemas genuinamente nos preocupam e angustiam seja em que dia for, na época das festas de Natal causam ainda maior apreensão.
Está provado que as pessoas que têm de lutar diariamente pela sobrevivência, só conseguem pensar no imediato. Ficam como que bloqueadas, sem conseguir tomar decisões a médio e longo prazo, não acreditando nos seus próprios talentos e capacidades, acabando por deixar o seu destino na mão de outros e interiorizando uma culpa que não têm. Perdem a esperança e a capacidade de acreditar que existem outros caminhos e outras maneiras de organizar a sociedade e que o papel delas é absolutamente essencial para essa transformação. Falta-lhes acreditar que podem fazer a diferença na construção de um mundo melhor.
Por outro lado, todas e todos nós não podemos esquecer que a liberdade e o desenvolvimento não são valores grátis, que nos caem no colo para usufruirmos deles. Se hoje temos melhor qualidade de vida do que há cem anos, é porque houve sempre pessoas dispostas a envolverem-se e a lutarem por isso. Gente que lutou pela paz, pela justiça, pela liberdade, pelo amor. Que colocou o bem comum como prioridade nas suas vidas, sem esperar por agradecimentos.
Acredito que temos de ajudar a promover a interiorização do conceito de que cada pessoa pode ter um papel relevante na sua vida e na vida das suas comunidades, olhando e atuando no metro quadrado em que vive, preocupando-se verdadeiramente com os outros, não deixando ninguém desanimar. Temos de mostrar que há vida digna para além das esmolas ou apoios que surgem com maior intensidade em épocas eleitorais e que trazem sempre uma obrigação: colocar uma cruzinha no boletim de voto para que o partido que sempre governou continue a fazê-lo, apesar das más opções políticas que vai repetindo com alegre e arrogante determinação.
Para 2023, ACREDITEM! Somos capazes de mudar uma sociedade. Somos capazes de construir projetos de desenvolvimento que respeitem a dignidade humana e a Natureza. Somos capazes de construir relações de ternura, compreensão e humanidade. Mudança precisa-se! Sejam agentes dessa transformação! Ela é possível, porque está em cada um ou cada uma de nós! ACREDITEM!
Madalena Nunes escreve à terça-feira, de 4 em 4 semanas