Naturalmente, este momento foi um choque para quem passou para a oposição. Mas essa oposição demorou demasiado tempo a digerir a derrota parlamentar e executiva, entrando demasiadas vezes num estado de histeria coletiva. Mais, desenvolveu um problema identitário: o que significam o PSD e o CDS para além de serem os partidos "que salvaram o país da bancarrota socialista"?
A escassos meses de uma nova batalha eleitoral, será essencial que respondam a essa pergunta - primeiro internamente, depois perante o país. Felizmente o PSD evitou o haraquíri político que o CDS está a viver, pois só existe uma coisa pior que batalhas internas - o cheirinho de medo de eleições. Rui Rio demonstrou bom senso em lançar o desafio ao seu concorrente em acelerar o processo interno e não suspender a democracia.
Na verdade, António Costa não inventou a pólvora. Governos minoritários com acordos parlamentares existem noutras bandas e fazem parte de um processo de amadurecimento democrática. Mas o que realmente cria solidez são coligações pós-eleitorais que vinculam o(s) parceiro(s) minoritário(s) à coresponsabilização executiva. Veja-se a Escandinávia.
E veja-se também a solução madeirense decorrente das eleições regionais de 2019, onde o CDS é cooptado para o seio do governo, não lhe permitindo o "vai-vem" que caracterizou a CDU e o BE durante os anos da geringonça - em dias solarengos, parte da solução, em dias sombrios, oposição ao governo.
O chumbo do Orçamento do Estado e subsequente dissolução do parlamento derivam dessa solução governativa que surpreendeu não tanto pela precariedade, mas pela longevidade (6 anos).
Ignorando a realidade da última sondagem, que dá um reforço eleitoral a Costa, em teoria, a equação parlamentar que serviu o PS um dia poderá servir o centro-direita. Aqueles que abriram garrafas de champagne com o chumbo do Orçamento e subsequente fim da Geringonça deverão ter em mente que uma construção semelhante à direita terá igualmente o defeito de fabrico da instabilidade latente dos meros acordos parlamentares. Ora veja-se o que está a acontecer nos Açores com o levantar de voz da Iniciativa Liberal no contexto do Orçamento Regional, que conduziu à sua alteração para evitar um chumbo. Ou seja, acordos parlamentares são pela sua natureza mais instáveis que coligações - sejam de esquerda ou de direita, isso é indiferente.
A crise pandémica e subsequente crise económica exigem da classe política a capacidade de chegar a consensos sociais. Consensos que se constroem em parlamentos, mas também nos executivos.
O Presidente da República sublinhou o "momento decisivo" da atualidade para conseguir sair de forma "duradoura da maior pandemia nos últimos 100 anos". Não existe plano B ou segundas oportunidades para o sucesso pós-pandémico.
A escolha está em nós, eleitores.
Sugestão da Semana: Deixo aqui um filme dos idos anos 1990 - Titanic. Aos dirigentes do CDS-Madeira que, do conforto da coligação regional, comentaram esta semana a lamentável rampa deslizante do CDS nacional, recorda-se que na impossibilidade de haver partidos regionais (e bem, na minha opinião) um afundamento nacional não deixa sobreviventes regionais.