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Artigo de Opinião

Investigadora

24/11/2024 07:30

Há dias, fui ver o jogo do Porto Santense. Quem me conhece sabe que até gosto de futebol, do jogo, da bola a rolar, entenda-se. Foram muitos anos, ao lado do meu pai, a gritar pelo Marítimo nos Barreiros. A equipa é recente, ainda não se conhecem bem uns aos outros, mas vi alguns rapazes com qualidade. O resultado foi um empate, apesar de termos estado a ganhar. Porém, o que me importa é saber que tudo isto assenta no sonho e na capacidade de fazer acontecer do Alex Bunbury que conheço há muitos anos, dos tempos em que lecionava no Galeão e testemunhei o seu empenho e a empatia para com os alunos. Poderia aproveitar as restantes linhas para elogiar a pessoa que ele é, e por o conhecer e saber que prefere ser discreto, vou apenas desejar-lhe Good Luck. Diz o povo que a sorte protege os audazes. Aos homens bons, resta-lhes viver na companhia do seu coração. Assim o disse também Lourdes Castro que nos aconselhou a “caminhar como o teu coração te leva”.

Entramos em Novembro a festejar. Ainda estranham? Primeiro, o Halloween porque a criançada gosta de se disfarçar e andar de casa em casa noite escura e, no dia seguinte, o pão por Deus, mantendo viva a tradição, partilhando fruta da época e alguns doces. No total, eram 22 crianças e nem contei o número de adultos, alguns disfarçados outros não. O essencial é fomentar o convívio e demonstrar o valor da partilha. Passamos por várias casas da vizinhança e, em todas elas, fomos recebidos com simpatia pois quem abre a porta acha graça ver os miúdos de saco na mão, divertindo-se tal como antigamente.

Tenho de confessar que não me agrada nada esta nova moda de encher as lojas e todo o comércio com enfeites e artigos de Natal já no mês de Outubro. Embirro e não é pouco. Peço licença para poder gozar primeiro o São Martinho, comer bacalhau, castanhas, nozes e figos (o vinho deixo para outros) e só então, lentamente, me deixar levar pelo espírito da Festa, uma quadra que gosto muito de celebrar. É que ainda acredito no Pai Natal e assim viverei agarrada a esta crença de que a fantasia nutre os dias dos sonhadores. Julgo que a minha gula também contribui para a felicidade que sinto nestes dias. Pecadora, me confesso. Venham a carne de vinho e alhos, o peru, as semilhas novas, as broas, os bolos de mel e os chocolates. E por falar em chocolates, estava eu a mirar a prateleira, ao final do dia, quando esbarrei numa senhora que apercebendo-se do meu êxtase, disse:

- O melhor é nem trazer crianças para aqui.

Respondendo que os meus filhos já eram crescidos eis que a senhora me explica que os dela também e que os netos até nem se “atiram” muito para os doces, rematando que o mais novo, respondendo à sua pergunta acerca do que tinha pedido ao Pai Natal, lhe disse:

- Uma palmeira, avó. Quero uma palmeira para o meu quintal.

M. é autista. Diz a avó que todos os dias, ao dar-se conta de que cortaram mais uma palmeira, chora. Tem as contas feitas. Sabe quantas já foram abatidas e até pesquisou sobre esse bicho mau que as destrói. Tal como S. Francisco, M. sabe que não se deve fazer mal aos bichos que habitam a terra, porém, custa-lhe a aceitar este extermínio. É que M. que, certamente nunca sequer ouviu falar de Lourdes Castro, tem consciência de que só vale a pena caminhar de coração estendido e cheio de sol e procurar, sempre, tal como o poeta, a palavra para cobrir o deslumbramento que nos causa a Natureza.

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