MADEIRA Meteorologia

Artigo de Opinião

2/09/2024 07:30

Agora que o incêndio foi controlado e extinto, é tempo de perceber o que se passou e o que é preciso fazer para evitar que estas situações se tornem um mal repetitivo. E isto não é conversa de somenos. Nos últimos 20 anos, se a memória não me falha, e sem contar com o presente, houve pelo menos seis grandes incêndios significativos na Madeira (2003, 2010, 2012, 2013, 2016, e 2022), com o incêndio de 2016 a atingir a baixa do Funchal e sendo particularmente notório pela sua gravidade e impacto na população e infraestrutura. Pelo meio tivemos a aluvião de 20 de fevereiro de 2010, igualmente nefasta nas suas consequências.

Pelo que, mais do que concentrarmo-nos nos meios de combate aos incêndios e se os mesmos foram devidamente empregues ou se são necessários outros ou outro tipo de organização, parece-me vital que nos pronunciemos sobre as causas dos incêndios mais do que o seu combate. Efetivamente este é o meio para combater a consequência, mas não a causa. Não me interpretem mal, pois é indiscutível que se deve apurar, até do ponto de vista político, as responsabilidades (se as houve), bem como se os planos existentes foram eficazes ou não e, neste caso, se são necessárias alterações. Que se realize as investigações necessárias, que se dê espaço aos verdadeiros especialistas para, em sítio próprio, se pronunciem, e que as suas palavras não sejam queimadas na fogueira pública.

Agora, mais a frio, é impossível não chegar à conclusão de que a principal causa para a frequência dos incêndios que temos vindo a verificar na Madeira, prende-se necessariamente com o abandono dos campos. Numa terra em que a presença humana até ao final do século XX prendeu-se essencialmente com a exploração agrícola, hoje contar-se-á pelos dedos a população que se dedica exclusivamente aos campos. E isso tem o seu custo.

O abandono da agricultura na Ilha da Madeira tem consequências abrangentes, afetando o meio ambiente, a economia, a cultura, e a sociedade como um todo. A agricultura tradicional na Madeira, com os seus socalcos e sistemas de irrigação (levadas), desempenha um papel crucial na estabilização do solo. O abandono das terras agrícolas pode levar à sua erosão, aumentando o risco de deslizamentos de terra, especialmente em uma ilha como a Madeira. Por outro lado, as práticas agrícolas tradicionais ajudam a manter a biodiversidade, promovendo a coexistência de diferentes espécies de plantas e animais. O abandono dessas práticas pode resultar na perda de habitats importantes e na invasão de espécies exóticas, mais frágeis ao avanço das chamas. Por outro lado, a vegetação tende a crescer de forma descontrolada, acumulando material combustível. Isso aumenta significativamente o risco de incêndios florestais, que, como temos visto, podem ter consequências devastadoras na ilha.

E, tendo presente que a agricultura e a paisagem agrícola são atrativos importantes para o turismo na Madeira, o abandono dessas áreas pode diminuir o apelo turístico da ilha, afetando negativamente uma das principais indústrias da região. Pelo que, reverter ou mitigar esses efeitos exige políticas que incentivem o retorno à agricultura, valorizem as práticas sustentáveis e promovam a revitalização das zonas rurais, mantendo assim o equilíbrio entre desenvolvimento e preservação das tradições e do ambiente natural da ilha.

Esperemos que o fogo da discussão que aí se perspetiva não se reduza a queimar pessoas, mas seja muito mais abrangente e construtiva. Que permita dar mais atenção às políticas para a terra e à consciencialização da população para a proteção do meio-ambiente. É parte do nosso futuro em jogo.

Outra casa a arder é o Marítimo. Tudo porque não ganha jogos. E, no final do dia, é o mais importante. A Direção, como tem sido público, tem vindo a organizar a casa, depois do descalabro dos dois anos da anterior gerência. E procurou, com algum esforço, dotar o plantel de mais-valias para atacar a subida e promover o clube à primeira liga. Se compreensível a decisão de manutenção do treinador, pelas razões que defenderam, porém, e atendendo à produção concreta da equipa na época passada e o falhanço em discutir a subida nos últimos minutos da temporada, a mesma não vinha sem risco.

E, passadas quatro jornadas, o pecúlio é pouco atrativo. Apenas 1 vitória, 9 golos sofridos e, mais uma vez, sem convencer em campo. É claramente muito aquém do que se espera de uma equipa candidata. E o problema é este. O futebol, quer goste-se ou não, não se compadece com amizades ou naturalidades. É tudo uma questão de eficácia, de vitórias e de pontos. E o Marítimo está hoje aquém destas exigências. As lideranças vincam-se pelas decisões que tomam, e pela coragem de as assumir. E pior que decidir mal é não decidir.

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