Houve um período de tempo, em que a diocese, a pedido dos Irmãos de São de Deus, colocou jovens sacerdotes como coadjutores de Santo António e capelães da Casa de Saúde, com a residência no Trapiche.
Mais tarde, no episcopado de Dom David de Sousa, esta zona foi separada da paróquia de Santo António, embora continuasse sempre como freguesia, o que muito desagradou ao Bispo diocesano.
O primeiro capelão da Casa de Saúde foi o jovem sacerdote Padre Manuel Goncalves Pita, natural dos Canhas que, durante 11 anos, desde 24 de setembro de 1940, até 1951 foi um digno capelão, amigo dos Irmãos e, com o seu modo de comportamento, era querido da população como dos religiosos.
O Padre Pita, como era então conhecido, foi levado pelos religiosos a visitar as Casas do continente e a seguir para Espanha a admirar a magnífica e rica igreja de São João de Deus em Granada. Quando chegou à Madeira referia-se muitas vezes ao que tinha visto e admirado, deixando nos jovens da catequese e, mais tarde em mim, já seminarista uma grande curiosidade que me levava a pensar, um dia verei tudo isso.
Durante o meu tempo de seminarista, já na filosofia, convidava-me a visitar a sua paróquia de Campanário, onde encontrou uma oposição descabida do antigo pároco Padre Antero, que o bispo o retirara da paróquia devido à idade e necessidade de construção de uma nova igreja. Quando o Padre Antero me convidava para almoçar em sua casa, visto gostar de falar comigo, o Padre Pita nunca se opôs, tanto mais que assim sabia o que o antigo pároco pensava dele e do bispo diocesano.
Mais tarde, quando era já bispo diocesano nomeei-o cónego, devido ao equilíbrio e merecimentos que granjeou nas outras paróquias que governou. Por fim foi viver numa casa em Santo António onde o visitava muitas vezes e o confessava. Tinha participado comigo numa peregrinação à Terra Santa, que muito o entusiasmou.
Retornando ao Funchal, Deus chamou à sua presença, Padre de múltiplos méritos, tendo deixando em testamento a sua casa para os pobres da paróquia de Santo António.
O segundo Capelão foi o Padre António Alberto de Sousa, desde 20 de maio de 1951 a 31 de março de 1954. Nessa época eu era seminarista estudante de Teologia e, no tempo férias, com muito boas relações com os Irmão de São João de Deus. Referi ao Padre Alberto a tradição do Padre Bernardino com a catequese dominical de tarde, dentro da capela, aberta aos jovens e adultos, ambos dividíamos os temas entre nós, depois seguíamos para o adro a cantar e dançar com jovens e adultos, dando muita alegria ao ambiente. Os mais idosos aplaudiam e depois vínhamos para a Capela rezar o Terço e receber a Bênção do Santíssimo Sacramento. Quando já era jovem sacerdote e nomeado para estudar em Roma, partimos para uma peregrinação para Roma, a Joc e a Jocf, para uma Audiência do Papa Pio XII com a presença de Mons. Cardjin, fundador da Joc Internacional.
Nesta ocasião o Padre Alberto quis acompanhar-nos e alegrou-se muito com a Peregrinação, dum modo especial em Lourdes.
O terceiro capelão foi o Padre João Gouveia da Conceição desde março de 1954 a outubro de 1956. A caraterística deste período foi a comunhão das primeiras sextas-feiras do mês que levavam os padres a passar uma semana por mês dentro do confessionário, embora o número e comungantes já se estendesse por mais tempo.
O serviço com as Conferências Vicentinas com sede na sala junto da Capela dos Irmãos aumentou superando até as das Conferências da paróquia de Santo António.
O Irmão Superior da Casa de Saúde, para além do serviço diário na enfermaria para o público deslocava-se pelos sítios a visitar os doentes e a ensinar a beber chás e levar medicinas. Eram tempos de grandes dificuldades e das ameaças da tuberculose, este homem procurava imitar o seu fundador São João de Deus que atendia a todos os que lhe chegavam a casa, sem se preocupar muito com a escolha das pessoas, o amor superava a organização.
O quarto capelão foi o vizinho Padre Teodoro de Faria, já muito conhecido dos Irmãos, tendo até um quarto para dormir e entrada no refeitório. Nesse tempo a Ação Católica movimentava toda a diocese, dum modo especial a JOC (Juventude Operária Católica) que já como seminarista em férias tinha um grupo de 60 jovens que se reuniam numa casa do Boliqueme que pertencia ao amigo e jocista Miguel de Castro. Falando com a professora Teresa Clode, que ensinava na escola feminina do Boliqueme, ela, grande entusiasta da Rádio e da caridade, organizou um grupo feminino da Jocf, também com 60 membros. Com os jovens formei um grupo de cantores para as missas dominicais, um grupo de futebol que jogava até no campo do Andorinha e num pátio da Casa do Trapiche. Além disso, ensaiava peças de Teatro popular para representar para o público que assistia e se divertia muito. A maior parte destes jovens emigrou depois para a África do Sul e Venezuela. Quando visitei a África do Sul juntaram-se, o chamado “grupo de Santo António” e fizeram muitas ofertas. Quando fui nomeado Bispo, enviaram-me uma cruz de ouro e o Samuel um anel com uma pedra preciosa.
Não costumo usar estas ofertas valiosas, a cruz será deixada a Nossa Senhora do Monte e o anel à Curia Diocesana. Como capelão, tive muitos trabalhos apostólicos, próprios dos jovens sacerdotes, confissões, visitas a doentes, enterros a pé até Santo António, muitos sermões nas festas da paróquia. Neste tempo os padres ainda não tinham carros próprios, andei muito a pé. A família do pároco de Santo Antónia dizia-me que, assim, não viveria muitos anos e falariam com o Bispo. Resultado, após sete meses, enviaram-me para estudar Teologia e Sagrada Escritura em Roma, com o colega e amigo de curso, Padre Maurílio de Gouveia. Deo Gratias.