Razões, mais que suficientes, para que estas temáticas devam ser devidamente atendidas na formulação/definição de políticas públicas, seus impactos e custos económicos e sociais. São, aliás, matérias cada vez mais comuns em termos europeus. Não obstante, na União Europeia, detendo importância o denominado Pilar Europeu, a verdade é que a área do Trabalho se encontra ainda na exclusiva tutela de cada Estado-Membro.
Seja como for, tal vai impulsionando a necessidade de serem definidos novos modelos de políticas públicas. Que lidem com aquilo que vai sendo construído como futuro do Trabalho, numa Europa que está constantemente a redefinir as suas políticas - vejam-se os efeitos da pandemia e da guerra na Ucrânia, ainda longe de se apurarem na sua completa dimensão. Tudo isto para fazer face, assim, às diferentes situações e crises que têm vindo a surgir, quer económicas, financeiras, sanitárias, sociais e humanas.
As tecnologias estão cada vez mais avançadas. É um facto! A Inteligência Artificial, a robótica, a realidade aumentada, surgem cada vez mais como recursos que cumprem as tarefas até há pouco realizadas pelo Homem, substituindo-o, mesmo, nalguns casos. Urge, pois, criar um clima que aguce o pensamento critico do cidadão e mobilize a força de trabalho para responder a problemas complexos em ambientes desconhecidos, pois o denominado "trabalho tradicional" está em crise - quando não a desaparecer-, dando lugar a modelos de base digital.
Na realidade, as tecnologias digitais estão de forma crescente impulsionando as mudanças e resolvendo os problemas que se vão enfrentando.
O desenvolvimento de competências digitais pode facilitar a adoção das tecnologias que emergem e não tem recuo. Aliás, estas, estão já na génese de forma incontornável nas mudanças laborais, que as organizações do trabalho encontraram como novas formas de trabalho, como nos casos do: teletrabalho, trabalho remoto ou o trabalho digital - em que as tecnologias digitais são o seu suporte.
Mas, a verdade, também, é que para gerir estas novas formas de organização de trabalho, e das pessoas que se encontram envolvidas, novos modelos de gestão emergem. Requer-se uma maior confiança nas relações de trabalho, maior autonomia e capacidade de iniciativa e tomada de decisão.
Como assinalam vários autores, e no caso Deming (The growing importance of social skills in the labour market, 2017), cada vez mais a procura crescente por capacidades cognitivas do tipo analítico e de resolução de problemas, mas igualmente por competências sociais e interativas, aparecem como fundamentais ao trabalhador para enfrentar os novos desafios que se apresentam. Competências, aliás, relativamente complexas, associadas à gestão de pessoas, particularmente de coordenação, negociação e de inteligência emocional.
Não deve haver, portanto, setor económico e de atividade que não deva fazer um esforço de se adaptar e não aproveitar, mesmo, as oportunidades, que se apresentam com a sociedade digital, que nos acaba de "entrar pela casa dentro". Aqui, pensamos, a Formação é o instrumento decisivo para o momento em que vivemos, porque é cada vez mais central a qualificação e a reconversão de trabalhadores, para responder às necessidades de áreas em que existe enorme procura de mão-de-obra.
Torna-se, portanto, estratégico e deve assim ser apresentado, e compreendido, com esta dimensão, quer na definição das políticas públicas, como pelos agentes -empregadores e trabalhadores-, encarar o foco da Formação como prioritário e em áreas fundamentais, justamente aquelas que acrescentam mais valor à economia, como no caso do digital.
Eduardo Alves escreve à segunda-feira, de 4 em 4 semanas.