Já nada é como antes. Tudo ganhou outro sentido. Vivemos na era do “reinventanso”. Não tarda, o mundo está perdido.

As missas do parto serviam, em tempos, para se prepararem para a chegada do Salvador. Agora? Servem para, no final, dar de beber à dor. Antes, o 25 de dezembro era para celebrar o nascimento de Jesus. Hoje, às escondidas, ler as cartas ao Pai Natal é a nossa cruz. A época de conviver com aqueles que mais gostamos, passou a ser aquela em que partilhamos mesa com quem nem nos damos. Desejamos boas festas, é certo... Mas não os podemos ver ao perto!

No fundo, a época que seria de amor, paz e alegria, não passa de uma hipocrisia.

Desculpe o desabafo. Não é nada contra você! É só que, embalados neste espírito, tudo o resto é o que se vê. Na sexta, fui, a pedido da minha mulher, comprar bolo rainha. Levantei cedo e coloquei-me na fila, logo depois de ter ido levantar umas calças que tinha pedido para fazer a bainha. Na padaria ofereceram-me uma taça e o jornal. Na costureira, no meio de fardas e aventais, reparei que vendiam facas. Qual é o mal?

Com a luz do depósito a acender, não me restava alternativa a não ser ir abastecer. Demorei mais tempo para pagar do que propriamente a atestar. Lá dentro um escolhia vinho, outro pedia um folhado misto aquecido e outro queria um café em chávena escaldada. Só faltou sentarem-se na esplanada. Enfim.... Dizem que agora é assim.

Que se quisermos aviar uma receita médica, é só ir a uma farmácia e aguardar pela vez. Enquanto se espera, apreciam-se sapatos ortopédicos, escovas de cabelo e até elásticos para carecas. É ao gosto do freguês. E os médicos dentistas? Antes tratavam da cavidade oral. Agora reduzem olheiras, corrigem duplos queixos e transformam o bigode chinês em beicinho sensual. Porque não? Só nós é que íamos ficar para trás? Já nem o simples restaurante o faz. Sim, estes já não servem apenas comida.... Dizem que vendem experiências! Prometem levar-nos numa viagem. Cruzes. Oxalá não seja só de ida.

Já as agências de viagens? Promovem memórias. Julgavam o quê? Que vendiam passagens?! Era só o que faltava.

Pior do que isso, só se os presidentes de câmaras, deputados, secretários e afins, não fossem só isso e se dedicassem a outras coisas mais. Sei lá a quê. Olhem, a alojamentos locais? Pensando bem, e depois? É melhor ganhar de um lado ou de dois?! Por falar em ganhar, e os clubes de futebol? Antigamente eram formadores de jovens e bandeiras de uma região. Alguns tinham até orgulho em ser tripeiro. Hoje é vê-los a fazer concorrência à 5aSec. Peritos em lavagens (de dinheiro). Desengane-se quem julgar que é só no norte. Se se safar algum, é uma sorte!

Nisto tudo, a fé é o que nos salva. Do contrário ninguém se iluda. Já nem nos hospitais temos quem nos acuda. São várias as urgências fechadas. Convidam-nos a fazer exercício e a correr de lá para fora, ainda que nos queixemos que, na 3.ª perna, temos uma pontada.

O melhor mesmo é procurar ajuda no ginásio. Lá foi o tempo em que lá só se faziam aulas de grupo e sessões de PT. Agora vende-se saúde e mais não sei o quê...

No fim de contas, só falta encontrar finalidade para o Instituto Português do Mar e da Atmosfera. Não digo que não se lance um ou outro alerta. O problema é que o IPMA raramente acerta! Por estes dias ia passar um anticiclone. Vinha aí uma ventania que ninguém parava... Se soprou uma brisa, não dei por nada. Antes de me despedir, posso pedir-vos um favor? Por amor de Deus, não perguntem nada ao Prior.

Por hoje estamos conversados. Desejo-vos apenas que a vossa vida seja um regalo. Se alguma vez fui injusto, pensem no peru. Quem morre é ele e a missa é do galo. Acreditem que não estou muito melhor. Se acham que escrevo muito, não imaginam o que calo...