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Artigo de Opinião

Presidente da Delegação Regional da Madeira da Ordem dos Psicólogos Portugueses

9/04/2023 08:00

O efeito de Dunning-Kruger corresponde a um enviesamento cognitivo, em que indivíduos com menor conhecimento num determinado assunto tendem a sobrestimar o conhecimento no mesmo, ao passo que as pessoas com maior capacidade num determinado domínio tendem a subestimar essa mesma capacidade. Ou seja, uma pessoa que sabe pouco acha que sabe mais; uma pessoa que sabe muito acha que sabe menos.

Mas se os enviesamentos cognitivos abundam e são inerentes à condição humana, neste caso há um aspeto especialmente problemático, que é o facto de os indivíduos normalmente não terem consciência da sua própria condição. Isto significa que estamos perante um efeito duplo, em que os indivíduos, além de poderem conhecer pouco sobre um determinado assunto, não têm consciência da extensão do seu próprio desconhecimento.

Isto naturalmente tem várias consequências para as atitudes e comportamentos individuais, mas também a nível sistémico, incluindo na dinâmica dos locais de trabalho, social e até da própria democracia. Por exemplo, pode haver pessoas que, apesar de menos informadas num determinado domínio, são também das mais confiantes, com a agravante - que tem sido identificada - da resistência a serem elucidadas e de tenderem a partilhar mais informação falsa ou falaciosa. Num clima social em que tudo se mediatiza e na selva das redes sociais, podemos imaginar as consequências disto…

Para lidarmos todos com esta realidade, e não sendo possível eliminar estes enviesamentos, é desde logo importante termos consciência dos mesmos, uma vez que isso nos ajuda a olhar para nós e a ajustar a nossa auto-perceção, incluindo termos noção das nossas limitações. Recordemo-nos também da importância de ouvir, valorizar e ganhar consciência através da análise do desempenho de outros, bem como de estarmos abertos à discussão dos assuntos, ao feedback e a um real compromisso com a melhoria das nossas competências.

Como Darwin dizia, frequentemente a ignorância gera mais confiança do que o conhecimento. Num tempo como o que vivemos e em que é preciso responder a múltiplas crises em simultâneo, devemos por isso ter em conta estes e outros efeitos e, acima de tudo, não confundir confiança com competência. O facto de alguém pensar que é bom em algo não diz muito necessariamente sobre a sua competência (quão é realmente bom em algo). Algo para termos presente, quer na forma como olhamos para nós próprios, no nosso processo de autoconhecimento, quer na forma como encaramos as instituições, a vida e o mundo.

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