Entramos no ano novo, com os olhos cheios de infância. Trazemo-los presos à vontade de um futuro que (gostaríamos tanto!) nos devolvesse a esperança. Trazemo-los presos às luzes mágicas da Festa e à saudade dos sonhos de antes. Trazemo-los seguros à vontade de sermos o melhor de nós.
Na infância dos nossos olhos, dormem as nossas raízes. E é sobre elas que construímos o tempo que há de vir. Sem ninguém ouvir (porque há brindes que fazemos em silêncio), brindamos aos ramos novos que hão de aparecer, mastigando as passas distraídas que não se fizeram vinho. É no silêncio que pedimos asas e voos calmos.
Janeiro tem o encanto dos começos. E os fogos que acendem de luzes os céus (nem sempre limpos, os céus de janeiro!) prometem romper as noites de todos os dias que o ano novo tem. E nós acreditamos, porque os nossos olhos se vestem de meninice. Em janeiro, voltamos a ser sonhadores e a acreditar. Apesar de, mesmo se. Acreditar.
É assim janeiro. Mesmo que este (à semelhança de todos os outros) abra as portas do desconhecido. Mesmo que este (à semelhança de todos os outros) engate na velocidade do tempo ou da falta dele e vá.
A verdade é que sabemos que a vida é assim e que o ano dobra depressa a esquina e tudo continua como dantes, apesar das decisões de. A vida tem qualquer coisa de marés e os nossos olhos (como nós, afinal) vão perdendo a capacidade de ver para além do que existe. E o apito dos barcos volta a ser o apito dos barcos. E o céu volta a ser o céu da chuva ou do bom tempo. E a poesia termina depressa.
O ano novo deixa de ser novo na primeira semana de janeiro e deixamos de ter tempo para ter tempo, porque, na realidade, não há espaço para a ilusão, porque é preciso correr, porque é preciso correr, porque é preciso. E retiramos a infância dos olhos porque há (muitas) coisas de adulto para pensar. E tenho pena.
É por isso que até ao fim do mês, vou dizendo,
- Feliz Ano Novo, para não deixar esquecer (para que eu não me deixe esquecer) a ciência de todos princípios.